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Diário da Câmara dos Deputados
É verdade que o Sr. Ministro da Agricultura já declarou que em 5 de Agosto ou não havia pão político ou então não havia Fontoura da Costa no Ministério.
Ora eu sustento que em 5 de Agosto barde haver pão político e há de haver Fontoura da Costa.
Mas o Sr. Presidente do Ministério pretende que o Parlamento faça com que o regime do pão político, que é transitório, se não torne definitivo.
Porém, para que isso aconteça, é preciso que se não concedam mais créditos à moagem, dêsses créditos enormes que nenhumas vantagens trazem para o Estado, é preciso que se pague ao lavrador o trigo pelo preço que realmente lhe deve ser pago.
Quando eu analiso as propostas que o Govêrno julga necessárias para fazer a felicidade do país, eu pregunto: porque escolheram estas medidas? porventura não haverá casos a atender neste intervalo, tam importantes ou mais do que êstes?
Há sim, senhor.
Tive eu um dia ocasião de falar aqui sôbre a situação de Angola, e manifestei um certo zêlo patriótico, ao qual o Sr. Presidente do Ministério respondeu, dizendo que tudo isso não tinha importância nenhuma.
Depois de eu ter acabado a minha interpelação dirigida ao Sr. Ministro das Colónias, uma representação que eu tenho aqui no jornal A Pátria, de 22 de Julho, e que diz o seguinte:
Leu.
Repare a Câmara, porque me parece que se trata de interêsses mais altos do que o imposto do sêlo e a contribuição de registo.
Apoiados.
Continua a leitura.
O que é que eu tenho afirmado nesta Câmara?
É que a situação financeira de Angola era gravíssima e que essa situação levaria naturalmente à rotura entre a colónia e a metrópole e assim o separatismo tenderia naturalmente a nascer.
Veio esta representação dar-nos absoluta razão.
Passados dias, cessavam as transferências de Angola para a metrópole, e então o que foi que Angola pediu?
Veio pedir a abertura de um crédito, ilimitado.
A metrópole perdida, sem dinheiro, arrastando uma vida financeira difícil, diria à colónia de Angola, como diria à de Moçambique, que lhe abria um crédito, sem limite, se uma parte do crédito fôsse, destinado à cobertura da metrópole.
Quere dizer, confessa-se aqui que tanto Angola como Moçambique têm uma balança deficitária.
Quais eram as consequências naturais disso?
É que, tendo Angola dinheiro em notas privativas da província, e que ali têm curso forçado, êsse crédito aumentaria a desvalorização da sua nota, que teria de pagar ágio à metrópole, e a pouco e pouco a desvalorização do escudo determinaria o equilíbrio da balança.
Mas o que é que de lá pedem?
Pedem uma cousa muito simples: é que a metrópole empreste dinheiro para cobertura.
E por quanto tempo?
Até o tempo das calendas gregas; até que Angola e Moçambique realizem os seus empréstimos em ouro.
Portanto, pretenderem criar uma situação artificial ao escudo de Angola é a mesma cousa que se os nossos comerciantes que vivem, por exemplo, em França, nos viessem pedir que o franco tivesse a sua paridade em escudos.
Essa situação artificial sairia naturalmente dos cofres do Estado.
O que é que se pede nesta representação?
Agora pede-se que se paguem a Angola os deficits do seu orçamento, porque se atribuem êsses deficits à desvalorização do escudo de Angola, e por isso pedem também que se pague aos comerciantes a diferença do ágio, como amanhã podem vir aqui reclamar que paguemos em França a diferença do franco cotando-o aqui a $20.
Mas não sou só eu, Cunha Leal, que venho descrever a situação grave da província de Angola, é a própria Associação Comercial de Lisboa.
Dizem que o Sr. Norton de Matos vem defrontar os que deturpam a sua obra, não os que o atacam pessoalmente, mas todos aqueles que se atreveram a duvidar da infabilidade do grande imperador da costa ocidental da África.