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Sessão de 23 de Novembro de 1923
O Sr. Carvalho da Silva: — Sr. Presidente: mal diria eu que teria de voltar a usar da palavra emquanto estivesse dada para ordem do dia a discussão de uma proposta que, afinal, está esquecida, visto que tudo se discute menos essa proposta.
Entendemos nós, dêste lado da Câmara, que, quando entramos aquela porta, o nosso primeiro dever é medir as responsabilidades que impendem sôbre os representantes da Nação, tratando de todos os assuntos com a necessária ponderação e não nos esquecendo um minuto sequer da situação financeira do País, legada pelo Partido Democrático, que é de tal maneira grave que se torna absolutamente incompatível com questiúnculas políticas ou com discussões que impeçam que se trate dos problemas nacionais. Assim, forçado a usar da palavra, em poucos minutos o farei.
Acusou-se a minoria monárquica de não ter politicamente autoridade moral para acusar o Partido Democrático.
E baseou-se essa acusação em que?
Baseou-se na leitura de um período de um discurso do grande estadista que foi Mariano de Carvalho, em que êste notável homem público se lamentava de lá fora se ter encontrado dinheiro em condições onerosas para o Tesouro Público.
Começo por declarar que a época da crise que o País atravessou no tempo da monarquia foi ocasionada por causas inteiramente opostas àquelas que levaram o País à situação em que hoje se encontra. Foi a chamada crise do Brasil que criou ao nosso País uma situação económica e financeira bastante melindrosa.
Sabe a Câmara que a crise do Brasil originou uma tal depressão cambial nesse país que a transferência do dinheiro em ouro para Portugal se não podia fazer, a não ser em condições onerosíssimas de que para essa grande colónia portuguesa, cujo patriotismo a toda a hora é revelado, resultariam prejuízos gravíssimos, absolutamente incomportáveis, tendo assim paralisado êsse caudal de ouro que vinha normalmente e que pesa de uma maneira extraordinária na nossa balança económica.
Proveio daí a crise de então e hoje sucede exactamente o contrário, visto que as circunstâncias cambiais do nosso País são de molde a constituírem o maior dos incentivos para que o ouro aflua. Nunca houve condições mais vantajosas para essa transferência se fazer, mas é tal a obra da República e, especialmente, a do Partido Democrático, que nem mesmo assim a colónia portuguesa no Brasil, por falta de confiança, por manifesta desconfiança, transfere o seu dinheiro.
É caso para agradecer o proporcionar-se-me o ensejo de fazer de uma forma tam evidente o confronto entre a obra da Monarquia e a obra da República. Em todo o caso, é extraordinário que a paixão política leve alguém a fazer afirmações como aquelas que ouvimos.
Queixava-se então o grande estadista que era Mariano de Carvalho de só encontrar dinheiro lá fora em condições onerosas. Queixa-se, porém, agora o Sr. Ministro das Finanças de não encontrar nem um centavo, quer em boas quer em más condições.
Eis o confronto. Mas há mais do que isso.
Fácil teria sido resolver a bancarrota, declarada honradamente pela Monarquia, pelos processos que a República lança mão, se homens públicos da Monarquia, sem quererem saber dos interêsses do País, tivessem querido entrar no caminho iniciado pela República de fabricar notas para fazer face aos maiores esbanjamentos, às despesas mais escandalosas, esbanjando assim dinheiro à custa da fome de quási todos os portugueses.
E ainda há o arrojo de se falar na situação brilhantíssima que a Monarquia legou à República, principalmente nascida da confiança do País num regime que jamais deixou andar os navios do Estado a serem arrestados pelos pôrtos estrangeiros por não se pagarem as suas dívidas?! Então, ainda há o arrôjo de acusar a Monarquia quando o Sr. Ministro das Finanças veio dizer que não se pagaram as letras do crédito de três milhões de libras?! Onde está a autoridade de um partido ou de um regime.
Trocam-se àpartes.
Sussurro.
Onde está a autoridade dêsse partido ou dêsse regime?! É por tudo isto que nós cada vez temos maior honra, mais orgulho em dizer que constituímos a mi-