O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 11 de Fevereiro de 1924 23

É indispensável que o Partido Democrático se manifeste e que a Câmara diga se está de acordo com o seu procedimento e lhe dá a sua confiança.

Ao fazer esta declaração, S. Exa. não se dirijo ao Partido Nacionalista, porque êsse Partido já lhe manifestou a sua desconfiança.

Apoiados.

É a maioria que tem de lhe dar o seu voto.

Mas pregunto: contenta-se S. Exa. com êsse voto, apesar do silêncio do Partido Democrático?

É preciso saber.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Sr. Presidente: vou, a propósito do artigo em discussão, fazer um pouco de história absolutamente adequada ao caso.

Em séculos remotos era costume pedir diariamente ao imperador da China licença para que o sol nascesse; e êsses imperadores como sabiam que o sol havia de nascer, davam sempre essa autorização, que era a melhor maneira de êles manterem o seu prestigio.

No caso presente, os imperadores são os membros do Partido Democrático, a quem o Sr. Álvaro de Castro vem pedir licença para fazer ditadura, e como sabem que êle já fez ditadura, e há-de continuar a fazer ditadura, os imperadores democráticos consentem que êle faça ditadura, para que o prestígio que têm não seja interrompido e continuem a manter o poder que têm tido.

Apartes.

Assim, S. Exa. terá a confiança do Partido Democrático, mas não terá a da República, pois a vejo com cara de poucos amigos.

Parece-me que é esta a razão por que, à semelhança da lenda dos imperadores da China, os Deputados da maioria não dão a sua opinião e só o apoio à obra de S. Exa.

Os imperadores sabiam que o sol nascia sempre, e os Deputados democráticos sabem que o Sr. Álvaro de Castro fará sempre ditadura.

É assim que o.Sr. Álvaro de Castro desempenha o papel que desempenhava o Sol, no império da China.

É realmente triste que os Deputados da oposição se vejam na necessidade de repetir os argumentos, e isto porque não têm a quem responder.

Antigamente no tempo da monarquia, nunca se levantava a voz de um Deputado da oposição que em regra não lhe respondesse alguém do Govêrno ou da maioria, e quási todos os oradores da maioria começavam sempre por dizer: vou responder às considerações do Deputado que me precedeu.

O Sr. Brito Camacho, que está presente, pode dizer se isto é ou não verdade.

Vigorava então o regime parlamentar de que o Sr. Afonso Costa era um dos maiores paladinos; mas agora não sucede isso.

A quem vou responder?

Ao Sr. Barros Queiroz?

Não, porque estou de acordo com S. Exa.!

Ao Sr. Moura Pinto?

Não, porque também de acordo estou com S. Exa.?

Ao Sr. Jorge Nunes?

Também não.

Ao Sr. Ministro das Finanças?

Mas S. Exa., como de costume, não disse nada; falou nos serviços à República e não passou daí.

O Sr. Carlos Olavo: — V. Exa. também não discutiu ainda a proposta.

O Orador: — Já a discuti na generalidade, e agora estou discutindo-a na especialidade, e com tanto maior desenvolvimento, quanto é certo que as propostas que o Sr. Almeida Ribeiro mandou para a Mesa alteram fundamentalmente a proposta de lei.

Mas visto que ninguém defendeu o Govêrno, visto que nenhum Deputado da maioria ou da Acção Parlamentar usou da palavra acerca dêste assunto, nós sentimo-nos cheios de autoridade para repetir e reforçar os argumentos já deduzidos contra a proposta do Govêrno.

Sr. Presidente: tinha armado em chefe de cerimónias desta sessão o Sr. Carlos Olavo, pretendendo impedir que qualquer orador seguisse uma orientação diferente daquela que S. Exa. queria; mas depois o Sr. Presidente do Ministério, transgredindo os desejos de S. Exa., levantou o