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18 Diário da Câmara dos Deputados

que êle é, ao homem que as incompatibilidades políticas dos homens da República puseram em situação a que, sem elas, nunca poderia ter sido guindado.

Menos felizes somos nós, os Deputados da Nação!

Se podemos ignorar os nomes dalguns Srs. Ministros que, inúteis e estéreis, passam como sombras vãs por as cadeiras do Executivo, é-nos muito difícil ignorar, na nossa função, aqueles que pelos seus malefícios se tornam conhecidos, e muito menos podemos ignorar o nome do Presidente do Ministério, quando, pelas suas obras nefastas, uma cidade inteira, um país inteiro, ao lado dos adjectivos que qualifiquem a sua incompetência ou a sua insensatez, vão declinando impiedosamente o seu nome.

O nome do desastrado estadista que mereça essa malfadada consagração, se não tem direito a entrar na História, é da história dos nossos dias, e vem no ouvido, vem no cérebro, como um remorso percuciante dos maus dias que as nossas paixões estão preparando à Pátria. Ao chegarmos ao Parlamento, como desconhecê-lo? como ignorá-lo?

Rumores no sector do grupo da Acção Republicana.

Sr. Presidente: a V. Exa., que não a mais ninguém, pregunto se as minhas palavras destoam da correcção parlamentar, ou se estou saindo dos domínios do meu direito na crítica que entendo fazer aos actuais acontecimentos políticos.

A um sinal do Sr. Presidente da Câmara, o orador volta às suas considerações:

O Orador: — Sr. Presidente: não me refiro, não tenho sequer de me referir às qualidades pessoais ou à probidade de quem quer que seja—cousas que estão fora do debate — mas eu pertenço à velha escola em que o amor com amor se paga, e nesta permuta de afectos precisava manifestar, como exórdio, ao homem que se senta na Presidência do Ministério consideração política igual à que êle manifestara por um Deputado da Nação e dar a V. Exa. e à Câmara a necessária explicação do motivo por que quer queira quer não, terei de reconhecer a existência dum Presidente de Ministério que, infelizmente para nós todos, é hoje bem conhecido em

Lisboa, como será amanhã pelo país todo quando os seus famosos decretos de perturbação nacional chegarem às mais afastadas aldeias.

Fui chamado ao debate, não por o ligeiro incidente que creio ter deixado bem liquidado, mas por uma estranha e atrevida interpretação que o Sr. Presidente do Ministério houve por bem dar a uma emenda minha sôbre a autorização que a maioria, em má hora, deu ao Govêrno para regular a situação cambial. Recorda-se V. Exa., recorda-se a Câmara? Era uma autorização melindrosa, tam melindrosa que todos os Presidentes de Ministério à altura das suas responsabilidades, se dispensavam de a pedir, e, depois de dada, se dispensavam de a agradecer como dádiva que prestasse. Mas porque ao actual Presidente do Ministério serve tudo, quanto lhe dê permanência no Poder, à espreita de azado ensejo para algum dos seus confusos golpes com que forje uma situação de destaque na política portuguesa, vá do arrancar à Câmara, cansada de não legislar, uma autorização para acudir à crise cambial.

A maioria, porém, mesmo entorpecida, mesmo tolhida no seu tédio de nada fazer, mesmo roída pela ânsia de se aliviar da dolorosa função de fazer leis, mesmo assim em face dêste Presidente de Ministros, não encobriu os seus receios.

Para lhe alcançar, pois, uma tal autorização era mester pôr em jôgo inteligência e só inteligência. Foi por isso que o Sr. Presidente do Ministério se ausentou nessa ocasião para o Senado e veio à Câmara o Ministro do Comércio, Sr. António da Fonseca. Convém dizer que êste ilustre homem público alia às brilhantes qualidades do seu espírito qualidades pessoais que, tornando-o estimado, dão à Câmara confiança nas afirmações que S. Exa. lhe faça, porque as faz, quando é preciso, com clareza de exposição e nobreza de intenções.

E S. Exa. foi claro, foi leal, não tergiversou, um momento sequer, quando a Câmara, receosa, de todos os lados lhe preguntava quais os limites em que entendia caber a autorização discutida.

Nobremente afirmou que o Govêrno a queria restrita exclusivamente a medidas atinentes à melhoria da situação cambial e que ela não serviria nunca para legislar