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Sessão de 14 de fevereiro de 1924 17

que se fizesse menos a publicidade dos recursos da província de Angola do que a defesa, paga, do seu Alto Comissário.

Documentei nessa ocasião a minha afirmativa, lendo os artigos que correspondem aos números exibidos.

Agora para não estar a repetir tudo, o que seria maçar a Câmara, eu vou ler apenas alguns dos artigos para que a Câmara veja se é honesto que a província de Angola os tenha pago.

Vieram em dois números do jornal O Mundo, e num telegrama publicado no mesmo jornal.

Pregunto à consciência da Câmara se não estranha que todos êstes louvores tivessem custado à província de Angola a verba de 7.560$!

Em verdade parece-me que tudo isto ao que pode importar não é à propaganda dos recursos de Angola, ao fim de atrair colonos, à propaganda destinada a evitar a saída do braços, à propaganda com o fim de atrair capitais para uma terra portuguesa.

O que eu li não foi para censurar ninguém, senão, talvez, o jornal que pedia, para reclamar uma tam alta figura como o Sr. Norton de Matos, tanto dinheiro para êsse fim.

Foi a única cousa que eu então afirmei, mas que na próxima quarta-feira me proponho demonstrar com todo o desenvolvimento.

V. Exas. hão-de então ver que há ladrões de vária espécie e, entre êles, os que fazem desaparecer das repartições públicas documentos que podiam incomodar certas personalidades.

Trago, fornecido gentilmente pelos próprios que fizeram o relatório, algumas cópias dêste, e V. Exas. terão a curiosidade natural de mo enviar para que eu justifique as minhas afirmações e para que eu possa dizer, de facto, que, sem acusar nenhum dos membros que compõem a Câmara dos Deputados, existe porventura em qualquer parto do território português uma quadrilha do ladrões, quadrilha de ladrões que, segundo a afirmação do Sr. Norton de Matos, foi de qualquer forma desmascarada por uma outra quadrilha de ladrões de documentos.

Mas os ladrões da quadrilha que rouba documentos para identificar outros ladrões têm uma atenuante para o seu próprio

acto, o atenuante tam grande que até foi reconhecida pelo Sr. Afonso Costa, quando, ainda na vigência da monarquia, se serviu no Parlamento do uma carta particular, carta de carácter particularíssimo, embora absolutamente inofensiva, como arma tremenda contra o regime monárquico.

O Sr. Afonso Costa julgou desmascarar certas personalidades envolvidas numa negociata, e eu, a quem foram facultados determinados documentos, julgo do meu dever utilizá-los para desmascarar uma quadrilha de ladrões.

Que querem V. Exas. que eu faça?

Que os deite fora?

Que os não leia para não manchar a minha vista com tal leitura, e continuarem os quadrilheiros a roubar à vontade?

Usei dos documentos e hei-de usar dê-los como puder, souber e entender, honrando-me mesmo por me servir deles.

Não sei se há quem pague documentos por 25.000$, mas o que eu garanto é que não produzirei uma única afirmação que não possa provar.

E assim, nunca direi que qualquer cousa foi paga por 25.000$ senão quando tiver a prova na minha mão.

Nunca me servirei de calúnias. O que puder documentar, documentarei. Analisarei os relatórios, alguns dos quais desapareceram do Ministério das Colónias, e servir-me-hei da minha inteligência, pouca que seja, para tirar conclusões sôbre a maneira como têm sido administradas as nossas províncias ultramarinas. E são os relatórios oficiais que hão-de servir de justificação das minhas palavras. Servir-me-hei, sim, de documentos roubados, ou não, quando tratar de desmascarar quem quer que seja.

Aos outros direi que quando me acusarem, se sirvam também de documentos, roubados ou não, para provar as suas afirmações.

Tenho dito.

Apoiados.

O discurso será publicado na integra, revisto pelo orador, quando, nestas condições, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Norton de Matos: — Sr. Presidente: declarou o Sr. Cunha Leal que as palavras que proferiu na sessão de terça-