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Sessão de 29 de Fevereiro de 1924 15

O Orador: — O Sr. Aires de Ornelas tem pelo Sr. Azevedo Coutinho a mais alta consideração.

Mas, deixando êste pormenor que não interessa à questão, vamos ao Alto Comissariado de Angola.

Começo por recordar uma frase pronunciada pelo Sr. Cunha Leal no início da sua interpelação:

«Para muita gente a pessoa do Alto Comissário de Angola é uma divindade, na qual se não pode tocar com um dedo».

Efectivamente quem tivesse a ousadia de o fazer depressa sofreria as conseqüências do seu procedimento. Digo-o por experiência própria.

Fui eu a primeira pessoa que nesta casa do Parlamento levantou pela primeira vez a questão do Alto Comissariado de Angola, tocando audaciosamente com o dedo a figura intangível do Alto Comissário.

Foi na sessão de 26 de Maio de 1922 antes de se encerrar a sessão, visto a maioria ter rejeitado o meu negócio urgente. As preguntas que, então, dirigi ao Sr. Ministro das Colónias constam do Diário das Sessões.

Mas o que fui eu fazer! Não tardou que em Angola começasse a correr por todos os cantos que o Sr. Paulo Cancela de Abreu levantara no Parlamento uma campanha contra o Alto Comissário. Choveram os telegramas de protesto que chegaram a ter eco nesta Câmara.

Nunca me moveu — devo dizer em abono da verdade — qualquer espírito de animosidade contra o Sr. Norton de Matos, que nem sequer conhecia de vista. E tanto isso é assim, que tendo sido eu procurado por um indivíduo que ainda hoje não sei quem era, para tomar conta dum processo existente contra o Alto Comissário, me recusei terminantemente a fazê-lo, já porque se tratava dum colega meu nesta casa do Parlamento, já porque tendo-me eu ocupado dos actos dêsse Alto Comissário me julgava impossibilitado de tomar conta de tal processo.

Não aceitei essa procuração, primeiro porque não me posso esquecer do que se trata dum meu colega, e em segundo lugar porque é uma pessoa a quem já me referi e terei, porventura, de referir no Parlamento.

Apoiados.

Já vêem V. Exas. quais são as minhas intenções.

Sr. Presidente: eu sou um combatente, sou mesmo um lutador — reconheço-o — mas devo dizer que se a minha saúde e a minha própria complexão física me permitissem seria mais lutador e combatente, porque estou convencido de que luto por um ideal nobre e pelo bem do meu País. Todavia, aqui como» Deputado — eleito pela cidade mais republicana do mundo... — e lá fora como profissional, sei bem os deveres que a minha consciência me impõe.

Precisava responder assim à atoarda levantada em Angola de que eu tinha erguido uma campanha contra o seu Alto Comissário.

Mas o que me respondeu o Sr. Rodrigues Gaspar, então Ministro das Colónias? S. Exa., que é um ilustre parlamentar e particularmente uma pessoa muito estimável, é também um espirituoso e sabe servir-se habilmente dessa arma para ladear e desviar as questões do seu curso. De maneira que vem muito a propósito dizer a respeito do Sr. Ministro das Colónias aquilo que pensou o Sr. Rodrigues Gaspar, e que se encontra no Diário das Sessões.

Aqui têm V. Exas. o modo como o Sr. Rodrigues Gaspar respondeu às preguntas que eu lhe formulei. Respondeu com espírito e graça, más confessando que eu o reprovava certamente. É claro que isto é lamentável.

S. Exa. fez a triste revelação, que também ouvimos ao actual Sr. Ministro das Colónias, do que o Ministro das Colónias estava inteiramente em branco, ignorava o que se passa no ultramar, abdicando inteiramente da sua função.

Êle passou a ser um autómato e o Sr. Ministro a desempenhar um papel de perfeito manequim, que eu não quero para S.Ex.apela consideração que me merece, mas com a agravante de S. Exa. dizer que o Sr. Rodrigues Gaspar tinha retirado do Ministério das Colónias um documento oficial que é o único a tal respeito.

O Sr. Ministro das Colónias (Mariano Martins): — Eu não disse que o Sr. Rodrigues Gaspar tinha retirado do Ministério êsse documento. Disse que S. Exa. o tinha levado para casa quando era Ministro.