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Sessão de 29 de Fevereiro de 1924 19

uma atitude de brandura, de resignação, por assim dizer de ingénua penitência, que está em absoluto contraste com a violência do ataque, com o repto lançado pelo Sr. Cunha Leal.

Sr. Presidente: tenho a impressão de que isto quere dizer alguma cousa.

Tenho o direito de preguntar o que é que isto significa, e se eu tenho êsse direito acho natural que o País tenha igualmente o direito de exigir que isto se esclareça.

Acho natural que o País peça ao Sr. Cunha Leal que diga tudo quanto sabe e possa interessar à apreciação da obra do Sr. Alto Comissário de Angola.

Sr. Presidente: o Sr. Cunha Leal foi o primeiro a dizer aqui que o Sr. Alto Comissário de Angola não era um Deus, não era uma divindade, embora seja certo que S. Exa. tem chagas na sua administração, embora seja certo que sôbre os seus ombros pese a cruz das suas responsabilidades.

Desde que me parece que o Sr. Cunha Leal não é uma Madalena, temos que esperar que S. Exa. diga tudo ao País, porque não é natural que o Sr. Alto Comissário de Angola consinta que não se esclareçam todas essas dúvidas.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): — Nesse exemplo bíblico que papel se reserva V. Exa.

O Orador: — Eu sou apenas intermediário.

O Sr. Cunha Leal: — O intermediário como se chamava?
Caifás?

Risos.

O Orador: — Em todo o caso parece-me que tanto o Sr. Ministro das Colónias como o Sr. Alto Comissário de Angola devem ser os primeiros a desejar que isto tudo se esclareça.

Ou o Sr. Alto Comissário de Angola, representado nesta Câmara pelo Sr. Norton do Matos, só defende e explica o seu procedimento ou o País, ouvido o ataque que lhe foi feito, o condena inexoravelmente. Meias soluções é que se não podem conceber, porque repetidas vezes o

Sr. Cunha Leal disse que sabia muito mais e que tudo dizia se o provocassem.

Sr. Presidente: o Sr. Cunha Leal referiu-se também aqui a um assunto em que nós somos mais interessados.

Referiu-se S. Exa. a um artigo publicado numa revista, artigo que não se dispensou de ler à Câmara.

Sr. Presidente: devo dizer a V. Exa. que não ouvi da boca do Sr. Norton de Matos a negativa formal, categórica e terminante de que tivesse sido S. Exa. o autor dêsse artigo; não ouvi da boca de S. .Ex.a uma palavra a êsse respeito, e, se porventura S. Exa. não foi o autor, não percebo o motivo por que não foi aqui trazido o nome do seu autor.

O Sr. Norton de Matos entendeu dever dar uma explicação que o Sr. Cunha Leal desfez: procurou S. Exa. demonstrar que o original que o Sr. Cunha Leal tinha em seu poder nunca podia servir de tradução literal da notícia publicada, porque essa tradução estava muito alterada.

Sr. Presidente: essa questão não tem para defesa grande importância, desde que infelizmente o Sr. Norton de Matos não só elogiou duma maneira categórica e terminante êsse misterioso Lusitanus, mas ainda perfilhou inteiramente a matéria dêsse artigo, dizendo que êle traduzia a verdade e que nada tinha de extraordinário no que dizia.

Sr. Presidente: a notícia é grave, quer nós lhe dêmos o sentido que lhe deu o Sr. Cunhal Leal, quer lhe dêmos o sentido que lhe deu o Sr. Norton de Matos-

Evidentemente que isto representa uma quebra de respeito à soberania nacional.

Creio que não há ninguém nesta Câmara que não se indigne contra o que aqui se escreveu.

Não protesto apenas em nome dêste lado da Câmara, protesto em nome do passado da causa que aqui represento, protesto em nome dêsses 30:000 portugueses que embora sejam republicanos são acima do tudo portugueses, que acima da República põem decerto o interêsse da soberania nacional.

Se amanhã, restaurada a monarquia, Angola ainda estiver, como espero que esteja, sob o domínio de Portugal, há-de continuar sob o domínio de Portugal, e os colonos que lá estiverem sujeitar-se