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10 Diário da Câmara dos Deputados

reira Mesquita e todos os seus camaradas e republicanos da Figueira da Foz de nada lhe valeu; em 19 era dada ordem para marchar para Nelas, para onde era transferido por castigo.

Ora tinham-se dado as seguintes circunstâncias, a que hoje por ter passado tempo, se dá pouca importância, mas que na ocasião representaram para o requerente o maior sofrimento que é possível ter.

Um filho seu que tinha estado na guerra, em duas campanhas na província de Moçambique, chegava a Lisboa doente e sem o ver há uns três anos.

Tendo conhecimento das circunstâncias que se davam, desorientou-se e contra a intimativa do médico e família pôs-se a caminho para a Figueira com mulher e duas filhas com acesso de febre; durou apenas três dias e o requerente teve de marchar na véspera dele falecer, sem lhe poder acudir nem assistir à sua agonia; uma filha que muito estimava e que começara a adoecer quando da sua prisão, faleceu dois dias depois, e o requerente teve de vir de Nelas assistir aos seus enterros.

É difícil explicar as circunstâncias que se acumularam para se dar êste desenlace, mais fácil é sofrê-las que narrá-las, mas foram causa primordial o seu castigo!

Chegado a Nelas, comandava o regimento um oficial que justificadamente o não é hoje, e que era todo das juntas do Norte; é de prever as circunstâncias que se deram, quer da parte dêle, quer da divisão, comandada por Paulo de Quental com um chefe de estado maior da mesma qualidade; os acintes foram imensos, até que a junta do Norte desafivelou a máscara mandando a circular, que o comandante leu em reunião de oficiais; ali mesmo preguntou o requerente pelas vias competentes se essa circular vinha oficialmente; ao que o coronel se recusou a responder, fugindo da sala.

Tinham-se extremado os campos.

Tendo chegado ao quartel o tendo-lhe alguns oficiais mostrado os jornais em que o comandante da 2.a divisão e chefe do estado maior faziam declarações a favor da Junta do Norte, pediu pelas vias competentes ao comandante do regimento para permitir que em seu nome e de al-

guns oficiais telegrafasse ao Sr. Ministro da Guerra dizendo-lhe que, ao contrário de outros oficiais, «lhe testemunhávamos o nosso franco e leal apoio para a manutenção da ordem e defesa da Pátria e da República».

Deu-se o que se tinha de dar: a divisão castigou-o com cinco dias de prisão disciplinar, que cumpriu, e dos quais reclamou, havendo sindicância e resultando o ser transferido para Elvas, onde quando chegasse havia ordem de marchar para Viana do Castelo!

Marchou em 20 para a Pampilhosa, onde chegando lhe disseram que não havia comboios para os lados de Lisboa; foi à Figueira pôr a sua família, falou numa das noites no teatro a favor da nossa intervenção na defesa da Pátria e marchou para Coimbra, onde lhe foi dada guia para se apresentar em Aveiro no Quartel General, onde então apenas havia oficiais da guarnição, e as tropas monárquicas se achavam quási envolvendo aquela localidade; frisa este facto porque é uma verdade: um grande número de indivíduos não tinham naquela altura coragem para se manifestar e esperavam a ocasião oportuna; êle não-tergiversou; e tendo contra si, se êles vencessem, «o ter modificado o itinerário indo de castigo, indo apresentar-se numa localidade a combatê-los sem que a ela pertencesse». Claro que nada o salvaria.

Em Aveiro trabalhou dia e noite, como diz o Sr. major Castilho Nobre, como um «negro» e como o sabem os oficiais todos que ali tiveram intervenção, até a entrada dos vitoriosos no Pôrto; pois apesar disso e do abaixo assinado ter visto os serviços que prestou cada um dos que ali compareceram, nem sequer se lhe fez urna referência, vendo-se obrigado a requerer que ao menos lhe seja averbado, para os fins convenientes, o tempo que fez serviço de campanha!

Vencia a República! O abaixo assinado sentia-se satisfeito e esperava, logo que serenassem os ânimos, fazer os seus requerimentos para que lho fôsse feita justiça e castigados aqueles que lhe tinham maculado a folha de serviços de 34 anos de oficial com castigos injustos o que, parece inacreditável, ainda hoje lha pejam!

Em 10 de Março de 1919 requeria o abaixo assinado a S. Exa. o Ministro da