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10 Diário da Câmara dos Deputados

les que são obrigados a ser vítimas dessa repetição.

E assim sucede, Sr. Presidente, que obrigados à audição diária das mesmas infundamentadas críticas, das mesmas vociferações, das mesmas, descompostas
atitudes, acabamos por nos tornar absolutamente indiferentes a essas diatribes.

No emtanto, essa nossa indiferença precisa de ser, de vez em quando, quebrada para que se não, diga que estamos coagidos como réus a um silêncio de cumplicidade.

Duma maneira geral, quási todos os dias ouvimos os guinchos histéricos do Sr. Cancela de Abreu, quási todos os dias assistimos aos mesmos maneios tauromáquicos do Sr. Carvalho da Silva, quási todos os dias ouvimos o coaxar monótono do Sr. Morais de Carvalho; e, na primeira fila, o Sr. Conselheiro Aires de Ornelas lançando de vez em quando um contrafeito apoiado.

Ora, Sr. Presidente, a permanência dêste quadro reduz-nos a uma completa insensibilidade.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu vem de vez em quando protestar contra o facto de se encontrar em liberdade o assassino de Sidónio Pais.

Os assassinos, seja qual fôr o motivo que os levou a assassinarem, seja qual fôr a paixão que os levou ao crime, nunca são nem podem ser meus correligionários. Mas o Sr. Paulo Cancela de Abreu veja falar dêste assunto, sem ter nenhuma autoridade para o fazer como representante da minoria monárquica.

Houve na história de Portugal um rei dos maiores que utilizou assassinos para, dentro e fora do País, exterminar os seus inimigos.

Mais tarde houve um Ministro do Reino que, em portaria, entregou a guarda duma das partes do País a um chefe de assassinos, a João Brandão.

Basta ler as páginas bem claras do livro Os assassinos das Beiras, para ver que a monarquia utilizou assassinos para manter a ordem numa parte do País. O próprio Visconde de Penela traçou como sua pena o libelo, contra Paiva Couceiro,
demonstrando que êle tinha roubado-o dinheiro da nação para sustentaram Londres e Paris os emigrantes portugueses inimigos da República.

Desde o aspecto financeiro ao aspecto moral é da disciplina, nós verificamos o que foi a vida da monarquia.

E se alguma cousa ainda existo de mau em Portugal foi herança da monarquia que nos deixou numa situação tam precária que ainda não conseguimos refazermos dêsse pesado e terrível testamento.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O orador não reviu.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu (para explicações): - Sr. Presidente, quero dizer a V. Exa. e à Câmara que em assuntos de ordem particular tracei para mim um caminho do qual nunca me desviarei. Em assuntos de ordem política, tenho pela causa que represento aqui um respeito tam grande que nada consegue impedir-me de a defender em toda a parte.

Só lamento, que esta Câmara assista a explorações de indignação de alguns Deputados, pelo simples facto de eu reclamar a prisão de um assassino.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Carvalho da Silva (para explicações): - Sr. Presidente: não me viu V. Exa., quando discuti a proposta do Sr. Ministro do Interior, desviar-me do assunto.

Por um Deputado da maioria fomos acusados de repisar as mesmas palavras; mas o que é interessante é que S. Exa. não fez mais do que repetir aquele discurso, que a propósito de tudo costuma proferir nesta Câmara.

Não compreendo que numa época em que o País atravessa, a situação a que a República o levou haja um Deputado que tenha o arrojo de acusar a monarquia.

Êste lado da Câmara, cada vez com maior orgulho, defende a causa honrada da monarquia, que deixou o País na situação de ter podido resistir até hoje a tantos crimes e vergonhas a que a República o tem sujeitado.

Falou o Deputado, republicano que usou da palavra, em disciplina. Quem é que neste País, com a consciência da crise que atravessamos, na anarquia em que vivemos, pode confrontar a disciplina