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18 Diário da Câmara dos Deputados

conservadores contra aqueles que, pelo seu extremismo, fazem com que os capitais emigrem, emquanto isso não se fizer, e não se fará na República, como o provam as palavras do Sr. Barros Queiroz, êste país só poderá afundar-se, e, nesta hora grave, é tempo de se dizerem as verdades e de todos porem de lado as suas paixões políticas, para se entregarem à salvação do país, de preferência a pensarem em salvar o regime.

O Sr. Barros Queiroz, dominado pela sua paixão política, frisando que nunca fizera campanhas contra republicanos, não hesitou em atacar os monárquicos nesta hora. em que tam necessária é a união de todos os conservadores e sem ter uma única palavra de censura para com republicanos, fez referência a um caso ocorrido ao tempo em que foi Presidente do Ministério, sem todavia o mencionar, mas que todos nós concluímos ter sido o célebre caso dos 50 milhões de dólares.

Acrescentou S. Exa. que nessa altura bem podia ter aqui falado contra algum republicano (todos sabemos que êsse republicano era q Sr. Afonso Costa), mas não falou, porque, dizia S. Exa., «não faço campanhas contra republicanos».

O Sr. Barros Queiroz: — V. Exa. permite-me uma interrupção?

O Orador: — Queira V. Exa. dizer.

O Sr. Barros Queiroz: — De facto, queria referir-me ao caso dos 50 milhões de dólares, mas de nenhuma maneira me quis referir ao Sr. Afonso Costa.

O Orador: — Referia-se então a outro republicano, mas, como o Sr. Afonso Costa teve larga intervenção nesse caso, julguei que era a S. Exa. que se referia.

O Sr. Barros Queiroz falou na administração da monarquia, por forma a querer deixar em todos a impressão de que essa administração é que fora criminosa, não resistindo a qualquer confronto com a da República.

Tenho a certeza de que o Sr. Barros Queiroz, com o conhecimento que tem das cousas públicas, pondo de lado a sua paixão republicana, para ouvir apenas a sua consciência, muitas vezes terá reconhecido no seu íntimo que foi uma grande desgra-

ça para o país a proclamação da República.

Não pode ser outra a opinião de S. Exa., pois que conhece bem os assuntos económicos e financeiros, para ignorar que a administração se avantaja em tudo e por tudo à da República.

Mas não sou ou, simples Deputado, quem tem suficiente autoridade para dizer qual foi a situação que a monarquia legou à República.

Tem, porém, para isso toda a autoridade o Sr. Conselheiro Anselmo de Andrade, distinto e conhecido economista.

São factos que ninguém poderá contestar os que êle refere no seu relatório sôbre propostas de fazenda.

Como pode S. Exa. considerar arrojo da nossa parte — como disse — o virmos aqui criticar a obra da República quando a administração da monarquia não tem a mais leve sombra de comparação com a administração republicana, porque ela era, em relação a esta, perfeitamente modelar, porque a moral administrativa da monarquia, em que se regateavam uns míseros 900$. por não haver verba, não se pode comparar com a moral administrativa da República, em que se gastam às centenas de contos mesmo sem verba.

Mas referiu-se o Sr. Barros Queiroz à fama bancarroteira da monarquia. Vejamos as, situações. Não existe país algum em que haja, largas medidas de fomento a executar que não se tente a fazer largos empréstimos, mas emquanto essas medidas não têm execução não há também país algum que não atravesse situações difíceis.

Ora Portugal, no tempo da monarquia, desde 1872 para cá, fez toda essa rede de caminhos de ferro que a República tem deixado deteriorar, fez toda a rede de estradas que também a República tem deixado estragar a ponto do quási por elas não se poder transitar, isto é que são factos!

Interrompendo ontem S. Exa., com sua autorização, já lhe disse que numa edição de 1912, do mesmo autor que S. Exa. citou como acusando a monarquia de bancarroteira, êle não se referia à administração da monarquia nesses termos. Hoje trago aqui essa edição para poder provar à Câmara á verdade das minhas afirmações.