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24 Diário da Câmara dod Deputados

Devemos, no emtanto, confiar na acção do Govêrno, certos de que êle saberá encontrar uma solução que sem derramamento do sangue, nem quebra de dignidade para os oficiais insubordinados, prestigio o Poder, o exército e a República.

Sr. Presidente: eu tenho notado com prazer, através da apreciação parlamentar dêste lamentável conflito, que se modificou nesse sentido mais-conciliador e humanitário o critério de algumas pessoas que aqui há cinco ou seis meses, perante possíveis lutas entre irmãos, se mostravam duma dureza impenetrável.

Vejo com contentamento que os homens que em 10 de Dezembro se encontravam obstinadamente quedos a todos os propósitos de conciliação, por parte de quem humanitàriamente procurava evitar uma luta em que certamente iria a vida de muitos portugueses, são agora os primeiros a aconselhar prudência e espírito de conciliação.

Ainda bem que eu posso registar esta modificação.

Sr. Presidente: se o Govêrno tivesse, logo em seguida ao primeiro acto de rebelião, tomado conta de todo o material da aviação, o movimento teria sido ràpidamente solucionado ou nem sequer se teria dado.

Mas, Sr. Presidente, o que vejo é que da parte do Govêrno tem havido o desejo de solucionar esta questão sem derramamento de sangue, sem violências inúteis, sem mesmo ir violentar a honra pessoal dos homens que estão em causa, mas também sem rebaixamento da dignidade do Poder.

Mau seria para o prestígio da República que nós fizéssemos cair o Govêrno em face do problema de prender ou não prender certos oficiais, de mais a mais quando nós sabemos, porque temos a palavra honrada do Sr. Presidente do Ministério e do Sr. Ministro da Guerra, que o Govêrno se conduzirá com a maior prudência para que se chegue à solução do conflito, isto é, para que se cheguem a integrar êsses oficiais na mais absoluta obediência sem haver derramamento de sangue.

E então pregunto: Não seria ingratidão fazer cair o Govêrno que ainda há dias no Pôrto, pelo acerto das medidas tomadas, conseguiu debelar uma greve

que tomava um aspecto grave, em que as bombas e tiros rebentavam por todas as ruas, o Govêrno que tem solucionado várias greves e que ainda está em conflito aberto com a classe telégrafo-postal?

Eu, como Deputado da Nação e mesmo como homem que sou contra as revoluções, que entendo que esta sociedade não pode continuar a viver neste mar de indisciplina e de anarquia, em que tem vivido, veria com desgosto cair o Govêrno perante uma questão desta natureza.

Há muitas questões que podem, porventura ser tratadas nesta Câmara e nas quais o Govêrno não consiga, possivelmente, a maioria de votos para poder viver, mas, em face duma questão mèramente disciplinar, seria com verdadeiro desgosto que o veria sair das bancadas do Poder convencido como estou de que o Govêrno há-de conseguir a solução do conflito sem correrem; perigo as vidas dos oficiais aviadores que, embora num mau caminho, são homens que merecem a minha consideração e alguns- deles merecem a minha estima pessoal.

Termino as minhas considerações dando o meu voto à moção apresentada pelo Sr. Paiva Gomes.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Pedro Pita: — Sr. Presidente: não me interessa, neste momento, a moção apresentada pelo Sr. Paiva Gomes, porque das palavras do Sr. Presidente do Ministério, ontem proferidas, é das palavras que proferiu no início das considerações hoje feitas, resulta para mim a convicção de que o Govêrno está demissionário.

Pedi a palavra no momento em que o Sr. Agatão Lança fazia referência a pessoas que têm assento nesta Câmara o que não pensam hoje como pensavam a propósito da revolta de 10 de Dezembro.

S. Exa. olhou por acaso para mim; acredito que fôsse por acaso, mas foi salientando que o Govêrno de então não tinha querido intermediários para a revolta da marinha.

Sr. Presidente, há que prestar um esclarecimento.

A marinha, quando nessa ocasião se revoltou, fez fogo sôbre a terra, declarou-se revoltada e atacou, e o Govêrno