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24 Diário da Câmara dos Deputados

Passado tempo, noticiou ainda que eu havia, realmente, sido convidado para Alto Comissário de Angola.

Não foi intuito de má fé que levou o jornalista a fazer essa afirmação, que não desmenti.

Creio, porém, que não ficaria mal colocado nem S. Exa., o Ministro das Colónias, nem eu.

Vou procurar, tanto quanto possível, reproduzir o que entre nós se passou.

O Sr. Ministro das Colónias preguntou-me se eu havia sido convidado por alguém para Alto Comissário de Angola, Expliquei a S. Exa. o que entre, mim e outra entidade se havia passado.

O Sr. Ministro das Colónias afirmou-me ver em mim as qualidades necessárias para neste momento exercer êsse lugar, mas acrescentou que não podia fazer convite formal, porque não queria colocar-me em condições de amanhã no Senado, porventura, ter o meu nome algumas bolas pretas, e que precisava sondar o seu Partido antes de fazer o convite. Mas era inútil fazer essa démarche, uma vez que eu não queria, aceitou.

Disse a S. Exa. que me dava uma prova de consideração convidando-me para tam alto cargo, neste momento.

Era lisonjeiro para o meu espírito, o saber das intenções de S. Exa., mas em nenhuma circunstância aceitaria o lugar, que muitíssimas pessoas apeteceriam, embora não soubessem a camisa de onze varas em que se iam meter. O Sr. Ministro das Colónias pensou em mim, para eu. exercer o cargo de Alto Comissário; eu, porém, não o aceitei, não o desejo nem o quero, quer êle me fôsse oferecido pelo meu próprio Partido. Para o desempenho do cargo em questão creio não ser obrigatório ir buscar quem esteja ligado a êste ou àquele Partido, visto
que, a meu ver, a única condição que deve impor-se e prevalecer sôbre todas é que o homem escolhido seja honrado e competente, de forma a que lugares tais possam ser desempenhados com dignidade e para bem do País.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Ministro das Colónias (Mariano Martins): — Sr. Presidente: pedi a palavra para responder às considerações feitas pelo Sr. Cunha Leal.

Quanto aos contratos feitos pelo Alto Comissário de Angola, Sr. Norton de Matos, eu já tive ocasião de dizer nesta Câmara, quando da interpelação que me foi feita, o que houve a tal respeito.

Se bem que, depois que o Sr. Norton de Matos foi nomeado para nosso embaixador em Londres, eu tenha ligado ao assunto o maior interêsse, não vi o que há de verdade sôbre o que o Sr. Cunha Leal referiu.

Tive, na verdade, informações idênticas às do ilustre Deputado, sôbre a casa bancária Sousa Machado & C.ª, assim como as tive relativamente à casa Galileu Correia & C.ª

De verdade, porém, nada posso dizer por emquanto, podendo, no emtanto, garantir a S. Exa. que me vou informar do que há de exacto sôbre o mesmo, dizendo depois à Câmara lealmente, como me cumpre, o que se me oferecer.

Quanto às restantes considerações que S. Exa. fez, e que se relacionam com uma conversa que tive com S. Exa., devo dizer que são absolutamente verdadeiras, se bem que entenda que o Parlamento nada tenha com as conversas particulares que eu possa ter, seja com quem fôr.

As conversas que tenha com qualquer cidadão português, são absolutamente indiferentes ao Parlamento e ao País.

O Parlamento apenas tem de se preocupar com os actos públicos que o Ministro das Colónias pratica.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Rodrigues Gaspar: — Sr. Presidente: não posso deixar de fazer outra vez algumas considerações a respeito da nomeação do Sr. Norton de Matos para a embaixada de Londres, depois das considerações feitas pelo Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Sr. Presidente: como vejo que os trabalhos parlamentares estão muito embaraçados na altura em que vamos da sessão, não quis intercalar nesses trabalhos mais um assunto que não merecia que se perdesse tempo com êle.

Àpartes.

Foi por isso que não escolhi outra ocasião para tratar do assunto, e manifestar o meu sentimento de repulsa ao que foi dito pelo Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros.