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12 Diário da Câmara dos Deputados

O Orador: — Sr. Presidente: não quero tornar mais longas as minhas declarações, e por isso vou terminar.

Só quero dizer que em matéria tam grave como esta o Sr. Cunha Leal devia ter feito concretas e precisas declarações.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. António Maia (para explicações): - Eu apenas quero dizer que quando me referi ao Sr. Vitorino Guimarães queria dizer Vitorino Godinho, que foi nosso adido militar em França.

Houve um oficial que se alcançou. O Sr. Vitorino Godinho não desviou cinco réis, mas também não tomou a responsabilidade, porque não lha pediram, como se fez agora com o capitão Sr. Ribeiro da Fonseca.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Cunha Leal (para explicações): — Sr. Presidente: extranhou o Sr. João Camoesas que eu não tivesse vindo, em assunto de tamanha gravidade, com afirmações claras.

É curioso que seja exactamente quem dirigiu ao Ministério a que ultimamente tive a honra de pertencer acusações, sem o mínimo fundamento, pretendendo denegrir homens públicos, que venha dizer agora que eu não precisei as minhas afirmações.

Eu sei, por segredos da tal advocacia, de que me arroguei e que não resulta senão de eu ser defensor e não advogado, porque eu não posso ser advogado, pelo mesmo motivo por que o Sr. João. Camoesas não pode ser médico, por falta de tese o que se passa por aí fora.

Eu sei as acusações que se fazem, e sei que estas acusações devem esclarecer-se no tribunal.

Eu prometo, com a boa vontade que toda a gente me conhece, e sem nenhum parti pris contra o nosso patriarcha Sr. Afonso Costa, que hei-de empregar todos os meus esfôrços para esclarecer a verdade.

O país deseja dignificados os aviadores; os aviadores desejam dignificar-se a si próprios, e nós todos desejamos dignificá-los.

É necessário arranjar uma plataforma comum, para que os oficiais aviadores sejam julgados, e a verdade esclarecida.

Quem presidiu, assistiu e denunciou as reuniões de oficiais, para irem à Amadora soltar os aviadores?

Pois V. Exas. não acham êste problema muito interessante?

Quem pode poupar-se ao prazer de saber como as cousas se passaram?

De resto, há outras cousas também muito interessantes, sem falar na vinda a Lisboa do Sr. Afonso.Costa.

Estando a Amadora cercada de tropas, o Sr. general Roberto Baptista pediu a sua demissão de 'comandante da 1.ª Divisão Militar e foi substituído pelo Sr. general Bernardo Faria.

Diz-se que houve uma conspiração para libertar os oficiais aviadores, conspiração em que tomaram parte vários oficiais.

Diz-se que houve um dos conjurados, que foi traidor, que denunciou o movimento, e que por virtude dessa denúncia, é que o Govêrno ficou senhor da situação.

Como é que num tempo em que um simples livro de memórias é vendido por 500$ ou 600$, em Lisboa, nós todos nos podemos privar do prazer de averiguar tudo o que se passou a êste respeito?

Tenho a certeza de que a Câmara dos Deputados não se privará dêsse prazer que, longe de ser um prazer doentio, é um direito e até um dever de todos nós.

Vê a Câmara porque é que eu falei, incidentalmente, no Sr. Afonso Costa, que acho um personagem simpático na vida portuguesa, um personagem de ida e volta, de vae-vem.

Todos nós andamos a dizer: Êle constituirá Ministério?

Depois segredam-nos aos ouvidos que êle só formará Govêrno se os nacionalistas entrarem, e outros afirmam-nos que elo organizará Ministério mesmo sem os nacionalistas.

E a gente faz apostas.

É uma espécie de loteria nacional.

O Sr. Afonso Costa não é bem um personagem de opereta; mas é um temível personagem.

Sr. Presidente: não levantei esta questão por motivos de ordem política.