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Sessão de 23 de Junho de 1924 15

do, por todos os tempos, os ares da mais diversa temperatura, passando por sôbre mares, por sôbre desertos, por sôbre vales e montanhas, desafiando sempre a morte com a mesma serena intrepidez-que há pouco ainda glorificámos em Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a mesma intrepidez que também encontráramos em Serpa Pinto, em Capelo, em Ivens, em Mousinho, em Azevedo Coutinho, em Paiva Couceiro, em Aires de Ornelas e tantos outros e que, ao que se vê, foi herdada, íntegra, dos ousados navegadores e dos denodados guerreiros que tornaram grande no passado o nome de Portugal.

E, como a alma dos heróis é em geral feita da mesma maneira, encontramos também nos heróis de hoje, revelada através das suas cartas e telegramas relatando as etapas várias e as peripécias da viagem, aquela simplicidade, aquela modéstia, aquela naturalidade tam despida de vaidade que já em Gago Coutinho a todos nos encantara e seduzira.

Glória, pois, aos dois aviadores eméritos ao seu companheiro, o mecânico Gouveia, que tam alto souberam erguer o nome da terra em que nasceram.

E seja qual fôr a gravidade do acto de indisciplina que porventura praticaram os seus colegas que hoje se encontram presos, não podemos esquecê-los neste momento, porque êles, ao contrário do que, com pasmo e mágoa li hoje numa nota de louvor do actual comandante da aviação terrestre, foram colaboradores dessa viagem, a êles cabe também uma parte, por pequena que seja, de glória que nimba a frente dos três portugueses, que pelos aros atingiram Macau; sem êles, a> viagem não se teria iniciado, sem,eles, que dela foram os animadores, que levantaram, o espírito público, que criaram o ambiente para as subscrições indispensáveis e - o que é igualmente importante — que fomentaram esta ânsia colectiva do êxito que amparou e excitou os aviadores; sem êles, a viagem não teria ido a cabo.

Não pode, pois, neste momento, deixar de ir para êles também, para os que estão presos em S. Julião da Barra, e sobretudo para o sou chefe major Cifka Duarte, um pouco de admiração e do reconhecimento dos portugueses.

Há dois anos, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, com a sua viagem inolvidável ao Brasil — genial pela sciência revelada e pelo heroísmo despendido — praticaram um acto que além de glorioso, foi de alcance político estreitando as relações e encurtando as distâncias entre Portugal e aquele grande país sul-americano, que pela língua, pelo sangue e pela comunidade da história passada, tam próximo parente é do nosso.

Agora, Brito Pais e Sarmento Beires, além de provarem que não morreu a alma portuguesa de outrora, valorosa e épica, a um tempo aventureira e calculadora, praticaram também um acto eminentemente político, mostrando ao mundo que Portugal olha cora carinho, com ternura e com disvêlo pelas suas colónias, por mais distantes que se encontrem da mãe-pátria.

O nome imorredouro de Portugal mais uma vez soou triunfante aos ouvidos de todo o mundo, graças aos heróis de hoje, a quem a minoria monárquica presta a homenagem entusiástica da sua muita admiração.

Pelo que respeita aos dois projectos que estão conjuntamente em discussão com a saudação proposta, direi ainda que houve da minoria monárquica, que, não só porque toda a luz deve ser feita, apurando-se inteiramente as responsabilidades de todos perante os sucessos estranhos da Amadora, mas ainda porque os próprios aviadores enclausurados em S. Julião da Barra são os primeiros a repelir num gesto nobre a amnistia que lhes estendem, êste lado da Câmara dará o seu voto iam somente ao projecto do Sr. Cunha Leal, que aos aviadores concedo a homenagem dentro da cidade.

Assim e conseqüentemente negamos o nosso voto ao projecto de amnistia, da iniciativa do Sr. Jaime de Sousa, que êles tam altivamente repelem.

Tenho dito.

O orador não reviu.

Vozes: — Muito bem.

O Sr. Carlos Pereira: — Sr. Presidente: também numa sessão essencialmente política como esta se pode ser justo e dizer inteiramente a verdade.

Mais do que nenhuma outra, é esta uma sessão acentuadamente política.