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16 Diário da Câmara dos Deputados

É-o sem desprimor para ninguém; é-o porque a concessão da amnistia, que pertence ao Congresso da República, é o mais alto acto de política que se pode praticar; mas, Sr. Presidente, da política que ennobrece, que eleva, da política que não é feita de insinuações, da política que pode dizer a verdade e interpretar os factos de maneira diferente, mas não deixa de prestar homenagem à justiça!

Sinto, Sr. Presidente, que é desnecessário vir juntar notas jocosas em cousas tam graves e sérias como esta.

Desamparados se disseram os aviadores de todo o auxílio oficial.

Falemos, todavia, a linguagem da verdade para que o país conheça bem os factos.

Os aviadores partiram, tendo pedido às instâncias oficiais que os deixassem partir sem encargos para a nação, quere dizer, sem amparos oficiais.

O Ministro da Guerra de então permitiu que êles partissem assim; mas, logo o carinho da alma nacional se abria para os receber e logo nesse momento êles quási que não voavam já no espaço e sim nos horizontes ilimitados do coração do nosso povo.

Mas, Sr. Presidente, bem pode ser que um povo pobre como o nosso não estivesse à altura ou não pudesse favorecer economicamente, proteger monetariamente o raid por forma que êle se realizasse;

Ouvi eu e ouviu a Câmara, é preciso que o país o ouça: o Sr. Ministro da Guerra veio dizer aqui:

«Não há o direito de roubar ao carinho do povo os aviadores; mas no momento em que o povo não possa continuar a dar-lhes o seu.auxílio, eu, Ministro da Guerra, farei tudo quanto estiver ao meu alcance para que o raid se conclua».

Vozes: — Foi assim mesmo!

O Orador: — Eu não tenho nenhuma espécie de simpatia por êste Govêrno e a êle já apresentei uma moção de desconfiança.

Num momento dêstes, Sr. Presidente, eu sinto que é quási uma hipoteca feita à nossa honra o dizer a inteira verdade.

Não interessa a ninguém a injustiça nem das palavras nem das atitudes.

O Ministro da Guerra, em determinada altura que fôsse dum raid que não era oficial, reconhecia que êsse feito era tam grandioso e representava tanto para o brio de Portugal, que veio pedir ao Parlamento a mais alta distinção que se pode dar- a um oficial: a promoção dos dois aviadores e do mecânico Gouveia.

E, nessa altura, não quis o Ministro da Guerra, bem por melindres que se compreendem fàcilmente, dizer que um raid idêntico era feito por Peletier d'Oisy partindo de Paris para Tóquio e que o Govêrno Francês ainda o não havia promovido.

O Sr. Cunha Leal: — V. Exa. dá-me licença?

Em primeiro lugar, os oficiais portugueses ainda não estão promovidos e o oficial francês já o foi.

O oficial francês fez um raid de natureza comercial, ao passo que o dos portugueses não tinha êsse carácter.

O Orador; — Foi possível ao Ministro francês ver o que nesse raid existia de grande e assim fazer a promoção do oficial.

Diz o Sr. Cunha Leal que os oficiais portugueses ainda não foram promovidos.

Porquê?

Porque o Ministro da Guerra, que é um Ministro constitucional, não tem o Senado no seu bolso para fazer o que quere.

Sou o primeiro a lamentar que essa proposta não tenha tido uma discussão rápida na outra Camarão

O Sr. Lelo Portela: — Isso é poeira lançada aos olhos do publico.

O Sr. Cunha Leal: — V. Exa. daqui a pouco acha bem que todos os oficiais estejam e continuem a estar presos em S. Julião da Barra.

O Orador: — Acho o que a minha inteligência e o meu sentimento me dão.

Vinha para votar a amnistia e foram as palavras de V. Exa. e doutros oradores que me impossibilitaram de a votar.

Apoiados calorosos do Sr. Cunha Leal.