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Sessão de 23 de Junho de 1924 21

caminho, qual a solução que se podia dar àquele facto.

Eu que sou político, que falo numa assemblea política, que tenho tido, como agora tenho, a previsão dos acontecimentos políticos, peço à Câmara que medite e veja se não pratica um acto errado e anti-político não votando a amnistia.

Numa questão destas não podemos falar com paixão.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): — Um dos meus amigos disse-me para eu falar ao Sr. António Maria da Silva; mas dessa me livrei eu, porque já sabia o resultado

O Orador: — Eu não sou procurador dos aviadores, mas ainda que êles não queiram, hei-de-lhes dar razão, porque a têm às carradas.

O Sr. António Maia: — Exactamente, às carradas!

O Orador: — Mas eu, que não quero trazer uma nota irritante para o debate, continuo a pensar pela minha cabeça, muito neles e pouco na política.

O que fiz eu? Abracei o Sr. Cifka Duarte, e abracei-o na consciência em que estava que abraçava uma criatura que, talvez amanhã, tivesse desaparecido.

Eu disse aos aviadores que não queria que se misturasse a questão política com a disciplina.

O Sr. António Maia (interrompendo): — Como é que os aviadores hão-de acreditar nos políticos que lhe foram dizer que o Govêrno ia cair e não caiu!

O Orador: - Eu respeito todas as criaturas que praticam um acto consciente; o que eu não respeito são os bandeirinhas que andam conforme as ocasiões.

O Sr. António Maia (em aparte): — Os bandeirinhas devem ser do partido de V. Exa.

O Orador: — Erradamente tinha-se dito que se podia dar a liberdade condicional. Trocam-se àpartes.

O Orador: — Eu não posso admitir que depois de tanta tolice política se deixem ficar presos os aviadores.

E neste momento singular nós temos que olhar para êsses homens e evitar tudo quanto possa ser uma causa de perturbação da sociedade portuguesa.

O Sr. António Maia: — Pois então o Govêrno que se vá embora, que é essa a vontade bem expressa em todas as manifestações que ultimamente se fizeram.

O Orador: — Se num dado momento eu entender que devo assumir a responsabilidade de qualquer atitude perante o Govêrno, fálo-hei com a mesma hombridade com que profiro estas palavras.

Sr. Presidente: os gloriosos aviadores ao saírem de Portugal foram cheios de fé, levavam aquela fé que o povo tem nos destinos da nossa Pátria.

Como compensação de toda a minha vida política, orgulho-me do facto dêsses dois rapazes se terem correspondido comigo no dia em que chegaram ao final da sua viagem.

Esta solidariedade absoluta por êsses homens e o carinho que me liga aos oficiais presos levam-me a dizer que aconselhe a Câmara a que vote o projecto de amnistia.

Tenho dito.

O orador não reviu.

Foi admitida a moção.

O Sr. Cunha Leal: — Sr. Presidente: do que acabo de ouvir sinto o meu cérebro perturbado.

Eu sinto a necessidade de algumas palavras de preâmbulo para deixar de esclarecer o meu pensamento.

O Sr. António Maria da Silva, ilustre leader do partido democrático, fazendo parte malgré tout do directório do mesmo partido, é um homem fenomenal.

Agita o cérebro da gente, perturba-nos, remove ideas, por fim ficando como aquele célebre empregado dos correios e telégrafos, cuja carta aqui foi lida pelo Sr. Ministro da Guerra, e como ficaram os próprios aviadores depois da conversa que tiveram com S. Exa.

O que fez o Sr. António Maria da Silva?

Fez porventura um discurso de ataque ao Govêrno?

Fez porventura um discurso de defesa do Govêrno?