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22 Diário da Câmara dos Deputados

Pretendeu, se é que atacou, circunscrever a sua acção de ataque ao Sr. Ministro da Guerra quando falou em imprevidência política?

Quis ir mais longe, e quando falou nessa imprevidência política, quis atacar o Sr. Presidente do Ministério, que se responsabilizou pelos actos do Sr. Ministro da Guerra?

O Sr. António Maria da Silva fez um discurso vago e nubloso.

Que concepção tem S. Exa. da disciplina militar?

Quando tive uma noção una pouco diferente daquela que me dou a respeito da militar o Sr. Pires Monteiro.

Êste nosso colega antes de usar da palavra fala comigo.

Tinha-lhe eu dito que lera há pouco tempo uma opinião interessante de um grande escritor francês sôbre o tipo militar. Dizia êsse escritor que um célebre abade Ceignard ouvia sistematicamente fazer na parada de um quartel uma prelecção a um capitão sôbre á orientação pela estrela.

O homem repetia sistematicamente aquilo que vinha na ordenança respectiva.

Um dia passou junto dele o abade Ceignard, e o nosso bom capitão preguntou-lhe: «Ouça lá uma cousa: todos os dias ando a ensinar a esta gente a orientar-se pela estrela polar, mas, com franqueza, não sei onde diabo parará esta estrela»,

O velho abade Ceignard indicou-lhe a posição em que se encontrava à Ursa Maior e ensinou-lhe a forma de a tomar como ponto de referência para encontrar a estrela polar.

O capitão olhou e disse: «Tem graça: a estrela polar fica mesmo em cima da minha cabeça».

E imediatamente ordenou aos soldados: «Cincoenta passos à retaguarda, ordinário, marche, para ver melhor a estrela».

Quando ouvi falar o Sr. Pires Monteiro julguei que se tratava do velho capitão a que acabo de me referir.

Mas o Sr. António Maria da Silva tem outra noção de disciplina. S. Exa. entende que os rapazes fizeram mal na atitude que tomaram na Amadora, mas o Govêrno também procedeu mal. Parece que Só uma pessoa fez bem: foi S. Exa.indo à Amadora abraçar o Sr. Cifka Duarte.

Eu não fui abraçar ninguém à Amadora; e se fui a Sr. Julião da Barra foi porque dois dos oficiais presos me tinham pedido para ser seu defensor e me queriam agradecer a circunstância de os ter aqui defendido sem ter misturado á mínima parcela de política nessa defesa.

Não sei bem o que os aviadores pensaram do Sr. António Maria da Silva, nem o que o Sr. António Maria dá Silva pensaria dos Aviadores.

Eu julgo que os indivíduos de crença duvidosa costumam dizer que Deus é bom, mas que o diabo também não é nada mau. É se eu quisesse reduzir o discurso do Sr. António Maria da Silva a uma fórmula, diria que o Sr. Ministro da Guerra é bom, mas que os aviadores também não são nada maus, ou então que o Sr. Ministro da Guerra é mau e que os aviadores são da mesma categoria.

Tudo se comporta nas palavras do Sr. António-Maria da Silva.

Mas porque é que S. Exa. se pronunciou de preferência pela amnistia é não pela liberdade até o momento do julgamento?

Pondo em acção o meu cérebro, que não tem culpa de não poder abranger ideas tam altas, fico sem fazer uma idea definida a êsse respeito.

Porque seria?

O Sr. António Maria da Silva disse multa cousa, mas não disse o que devia dizer.

Disse que os aviadores andaram mal, que é preciso que não continuem presos, mas que não devem ser soltos em liberdade, que se lhe deve dar a amnistia, que se lhes deve dedicar todo o entusiasmo.

Ninguém sabe o que isto quere dizer.

Na máquina do raciocínio do Sr. António Maria da Silva anda encoberta a razão, por que é melhor uma cousa que outra: serem soltos condicionalmente ou a amnistia.

Ninguém o sabe. É a questão do pão quente...

Se se fizer o julgamento, êsse julgamento há de provar a imprevidência do Poder Central, e assim a legitimidade do procedimento dos aviadores.

Eu não necessito da solidariedade dos aviadores para nenhuma aventura militar; e não tenho necessidade de estar a dizer aqui palavras de incondicional apoio à sua atitude.