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12 Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. Almeida Ribeiro: — Há pouco fui visado directamente por estranhar, que logo após a demissão inesperada de um Govêrno, se tivesse discutido um assunto a que faltavam todos os elementos de informação.

Não pedi a palavra para explicar o assunto da prata, porque o desconheço, mas para protestar contraia demolição que se está fazendo dos homens da República, principalmente daqueles com que a República pode contar nas horas difíceis da sua vida.

Então não é demolir o chamar-se a êste facto, da saída da prata, um negócio escuro?

Falou-se que a prata tinha sido embarcada altas horas da madrugada, pelo escuro, mas não se quis verificar que isto podia ter sido derivado pelas exigências do embarque?

Quem não vê isto!?

O que nós criamos com uma imprevidência — não quero ofender ninguém — que há-de ser absolutamente funesta para todos nós!

É do elementar conhecimento de qualquer que tenha praticado, pouco ou muito dentro da administração pública, que as ordens de um Ministro levam dias, por vezes semanas, a executar.

Quem pode imaginar, por isso, que o Sr. Ministro das Finanças demissionário, ou qualquer outro Ministro sem ser o Sr. Álvaro de Castro, fôsse, depois de demitido, êle mesmo ordenar ou executar o embarque furtivo da prata?

Quem pôde admitir isto?!

É preciso que nós suponhamos dos outros as últimas misérias, as piores abjecções, para poder, sequer, levantar esta suspeita.

Apoiados.

Oxalá que as minhas palavras tenham o condão de provocar um momento de reflexão sôbre nós próprios, para que, fazendo todos a defesa dos interêsses da Nação e ao mesmo tempo a defesa dos interêsses do partido em que militamos, todavia nós, a parte republicana da Câmara, tenhamos a fácil previdência de não nos inutilizarmos assim uns aos outros, sem base e sem motivo, unicamente com a preocupação do momento que passa para tirar efeitos políticos.

Apoiados.

Eu já disse que foi sobretudo uma questão de sentimento que me levou a pedir a palavra, para explicações. Não conheço, já disse, o caso da prata; quis apenas salientar que é preciso não levarmos a nossa paixão política até o ponto de supor monstruosidades de carácter moral até como estas que se vinham formulando, embora com palavras veladas, a respeito do carácter de um homem que podia ter sido um mau Ministro, mas que é um homem honrado e de carácter.

Apoiados.

Disseram-se também aqui, já por mais de uma vez, palavras diversas a respeito de um alto funcionário do Ministério das Finanças, o Sr. director geral da Fazenda Pública.

Um Sr. Deputado monárquico disse que êle mentira em determinada entrevista, e o Sr. Cunha Leal fez referências também ao mesmo funcionário a respeito da sua Conduta profissional.

Se estas referências ao Sr. director geral da Fazenda Pública podem ter uma explicação de momento, pela circunstância de não termos presente um Ministro que responda pelos actos dêsse funcionário, elas não podem deixar de ter a minha discordância completa sem saber se êsse funcionário procedeu dentro das ordens que recebeu. Não temos o direito de supor por emquanto cousa diversa.

O Sr. Cancela de Abreu: — Nós referimo-nos à entrevista do Diário de Lisboa.

O Orador: - Não discuto entrevistas, porque muitas vezes elas são inexactas. A vida jornalística é muito diferente da nossa.

Sr. Presidente: já quê estou no uso da palavra, quero fazer mais algumas considerações.

Eu sei que tanto pela lei de Maio de 1923, que autorizou o empréstimo de 6 1/2 por cento ouro, como depois por uma lei de Novembro dêsse ano, referendada pelo Sr. Cunha Leal, então Ministro das Finanças, se autorizou a venda da prata para a converter em ouro.

Simplesmente, eu também sei, não por conhecer actos reservados da administração do Estado, mas por aquilo que veio a público depois disso, que essa prata era considerada pelo Banco de Portugal como pertença sua.