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Sessão de 27 de Junho de 1924 9

vista do facto de o Govêrno estar demissionário, o não poder vir à Câmara responder pelo acto que praticou.

Diz o Sr. Velhinho Correia que nós fazemos o mal e a caramunha, pois a verdade é que o Poder Legislativo não tem dado ao Executivo os meios necessários para que êle possa viver, evitando-se a venda da prata.

É êste um êrro profundo do Sr. Velhinho Correia, que de há muito se arvorou em defensor do Govêrno que estava nas cadeiras do poder, pois a verdade é que num regime parlamentar todos sabem que são as maiorias que governam.

Parece que se vê que o Sr. Velhinho Correia desconhece isto.

Um governo, quando não pode governar em virtude de não encontrar da parte da maioria as facilidades de que necessita, o que tem a fazer é sair do Poder e não empenhar a prata, o ouro ou a última camisa que o país tem, se é que ainda tem essa camisa.

Apoiados.

Disse mais o Sr. Velhinho Correia que aqueles que tanto gritam contra a venda da prata desejam o aumento da circulação fiduciária, isto é, mais notas para sacrificar ainda mais a vida dos pequenos.

Não se vá supor que é somente o maior ou menor número de notas que modifica o preço da carne e do bacalhau. Pois há alguém que não saiba que os géneros sofrem da influência cambial?

Então um acto do Govêrno, que tenha uma influência no câmbio, não é tam grave como qualquer aumento de notas?

Falei da primeira vez com a maior serenidade, como normalmente costumo ter, e mostrei que uma vez que se praticou o acto da saída da prata, era indispensável que o Parlamento impedisse a segunda: o do emprego livre do ouro em vez de o colocar no Banco de Portugal para garantia das notas em circulação; mas o Sr. Velhinho Correia lembrou-se de empregar palavras que a essa serenidade não correspondiam, e isso me levou a falar em termos que S. Exa. bem merecia.

Tenho dito.

O orador foi muito cumprimentado.

O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Presidente: — Pediram a palavra para explicações os Srs. Portugal Durão e Cancela de Abreu, mas como já deu a hora de se passar à ordem do dia nEo posso conceder a palavra a S. Exas. sem que a Câmara o consinta.

Vozes: — Fale, fale.

O Sr. Portugal Durão: — Eu não discuto se o Govêrno tinha ou não autorização para vender a prata.

O Sr. Almeida Ribeiro (interrompendo): — V. Exa. sabe se foi vendida a prata?

O Sr. Pedro Pita (em àparte): — O que eu sei é que ela embarcou e foi para o estrangeiro.

O Sr. Nunes Loureiro (em àparte}: — Foi tomar ares!

O Orador: — Eu não discuto se o Govêrno tinha ou não autorização para vender a prata.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): — V. Exa. podia preguntar ao Sr. Almeida Ribeiro se êle sabe se a prata, foi ou não vendida?

O Sr. Almeida Ribeiro (interrompendo): — Eu não sei se a prata foi ou não vendida, o que eu estranho é que depois da demissão do Ministério se levante tam grande celeuma.

O Orador: — O Govêrno acabou, mas o País fica.

O que me interessa é o aspecto moral da questão.

Dizia-se que o crédito do País era completo lá fora. Que a prata não ia para fora. Mas a prata foi embarcada esta madrugada.

Foi embarcada às escuras!

Foi vendida?

Foi empenhada?

Não sei!

Se o Govêrno aqui estivesse, eu lhe pediria os esclarecimentos precisos.

Se foi vendida, por o Govêrno estar autorizado a vendê-la, porque não veio o Govêrno dizer como isso se fazia?