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10 Diário da Câmara dos Deputados

longe de tranqüilizar os justos sobressaltos da opinião pública, diz, na sua declaração ministerial, que seguirá a política financeira do anterior Govêrno, perfilhando até as propostas da sua autoria;

A Câmara nega a sua confiança ao actual Ministério e continua na ordem do dia.— Artur Carvalho da Silva.

Depois de se terem pronunciado todos os lados da Câmara acerca da resolução da crise ministerial, julgava eu que não teríamos já nenhum ponto dos que apaixonam a opinião pública para abordar nas nossas considerações.

Um dos oradores foi o parlamentar brilhantíssimo Sr. Cunha Leal (Apoiados) que o seria por certo em qualquer época, e que produziu um largo e brilhante discurso, como todos que costuma produzir nesta Câmara; mas, apesar do seu altíssimo valor e seu excepcional talento, não se esqueceu de que é republicano, e de que os republicanos estão impossibilitados de abordar nesta Câmara os problemas do mais alto interêsse nacional.

Já ontem o Sr. Cunha Leal irisou quanto de incoerente e verdadeiramente inexplicável contém esta declaração ministerial.

«Então o Govêrno do Sr. Álvaro de Castro foi derrubado pela maioria parlamentar, por não concordar de nenhuma maneira com as suas medidas financeiras, e afirma-se que a solução da crise disse o Sr. Vitorino Guimarães tinha sido rigorosamente constitucional, dentro dos termos rigorosos da Constituição?

Não, a solução da crise foi rigorosamente anti-constitucional.

Apoiados.

De maneira nenhuma o actual Govêrno pode julgar que tem o apoio do bloco a que se refere, porquanto vários Deputados da maioria parlamentar, nomeadamente o Sr. Portugal Durão, impugnaram a obra financeira dêsse Govêrno. Também se pronunciaram igualmente contra essa obra.

E não foi o Sr. Portugal Durão, um dos que discutiram a questão da prata?

Um dos oradores que usaram da palavra foi o Sr. António Maria da Silva, que declarou ter discordado da orientação financeira do gabinete Álvaro de Castro,
e precisamente por isso tinha tomado atitudes que muitos não tinham sabido compreender.

Pode, portanto, apoiar a política financeira do actual Govêrno?

Apoiados.

O programa do actual Govêrno, tal como vem expresso na sua declaração, é o contrário do que preconizava o Sr. António Maria da Silva numa entrevista que concedeu ao Diário de Noticias.

Apoiados.

Então pregunto: onde está a constitucionalidade da resolução da crise? Podemos continuar assistindo ao espectáculo verdadeiramente inédito de os parlamentares republicanos se manifestarem um dia duma maneira e outro dia doutra?

Não me demorarei muito na apreciação dêste aspecto da questão, porque o que me importava é que a crise tivesse tido uma solução nacional, e ela foi o mais antinacional que é possível.

É já conhecido o bom humor de actual Presidente do Ministério, Sr. Rodrigues Gaspar; são conhecidas as suas blagues, quási sempre cheias de espírito. Eu cumpro gostosamente a praxe parlamentar de apresentar ao Govêrno os meus cumprimentos, mas não posso deixar de frisar que, dentro do seu feitio irónico, o Sr. Rodrigues Gaspar nunca teve uma blague tam cheia de espírito como esta da constituição do actual Ministério.

Êste Govêrno é a melhor blague do Sr. Rodrigues Gaspar. Não sei até se durante as horas amargas da crise S. Exa. chegou a perder o seu bom humor; mas creio que não, porque S. Exa. não hesitou em dar à imprensa nomes de Ministros que toda a gente procurava saber quem eram. Creio até que houve um concurso para se saber quem era o Sr. Salema.

Risos.

Mas vamos à blague. Na hora grave da situação financeira que o país atravessa qual foi a alta competência financeira que o Sr. Rodrigues Gaspar foi buscar? O Sr. Daniel Rodrigues! Tinha S. Exa. o seu plano financeiro? Êle próprio confessa que não.

Mas não pára aqui a blague do Sr. Presidente do Ministério.

Sabendo que o problema colonial é um dos mais graves, que fez S. Exa.? Como não encontrou um Ministro competente,