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8 Diário da Câmara dos Deputados

O assunto das Misericórdias devia merecer desta Câmara e de todos os representantes do País a maior atenção.

Não me move qualquer má vontade para com os apresentantes da proposta, mas isto não impede que eu declare que o artigo 1.° está contrário aos desejos das Misericórdias, que acima de tudo querem a sua autonomia, e por êste artigo vai-se meter dentro dessas instituições o escalracho da política!

Êste artigo tal como está redigido é a ruína moral das Misericórdias porque os 10 por cento sôbre as contribuições gerais do Estado é um adicional pedido pelas Misericórdias, é o odioso que sôbre elas vai cair, e os próprios que baterem às suas portas já não irão receber uma esmola mas uma parte de uma contribuição que ajudaram a pagar. Toda a beleza das tradições das Misericórdias desaparece com êste artigo 1.°

As Misericórdias não precisam de mais nada do que aquilo que têm; o que querem é que o Estado lhes dê aquilo que desvalorizou!

O Sr. Presidente (interrompendo): — Deu a hora de se entrar na ordem do dia. V. Exa. fica com a palavra reservada?

O Orador: — Certamente, pois agora é que entrava nas minhas considerações!

O Sr. João Camoesas (àparte): — É assim que V. Exa. quere salvar as Misericórdias.

O Orador: — Tudo quanto seja impedir a votação dêste artigo tal como está redigido será de facto em favor das Misericórdias.

O orador ficou com a palavra reservada.

Foi aprovada a acta.

ORDEM DO DIA

O Sr. Presidente: — Vai continuar o debate político. Tem a palavra o Sr. Joaquim Ribeiro.

O Sr. Joaquim Ribeiro: — Pedi ontem a palavra quando o Sr. Cunha Leal estava fazendo afirmações com as quais eu não concordava e se referiam à crise e à atitude do Sr. Afonso Costa.

Principio por dizer que tenho pelo Sr. Rodrigues Gaspar uma grande estima.

S. Exa. é um grande parlamentar.

Possui excepcionais qualidades e ainda agora as revelou na organização do seu Govêrno.

Assim é que, tendo sido — está isto na convicção de todos — empurrado para formar Govêrno por aqueles que de antemão estavam na persuasão de que o não conseguiria, S. Exa. conseguiu com a sua grande tenacidade, através de todas as dificuldades, levar a bom termo a sua missão.

Sr. Presidente: em meu parecer êste Govêrno não será tam mau como dizem.

Dizem uns que o Gabinete presidido pelo Sr. Rodrigues Gaspar é um Ministério de verão. Eu digo que é um Ministério que tem a desventura de passar o verão no Poder.

Todos os seus componentes merecem a nossa consideração e de entre êles podemos destacar as figuras prestigiosas de Catanho de Meneses, general Vieira da Rocha e Pereira da Silva, meu ex-colega.

Na hora que passa a obra a fazer não é de um Govêrno, mas sim de nós todos.

É, pois, indispensável que todos se convençam da necessidade de se fazer uma obra comum para salvação do País.

Eu, Deputado sem filiação partidária, sinto-me triste e desanimado com a situação que se tem criado, que só pode prejudicar a República e fazer mal ao País.

Dela só poderemos sair se todos quiserem cumprir o seu dever e darem-se as mãos para se trabalhar pela salvação do País.

A meu ver não são verdadeiras as razões que alguns apontam como tendo sido a causa da última crise ministerial.

Por isso eu me manifestei contra algumas das afirmações que ontem foram feitas aqui pelo Sr. Cunha Leal, que à primeira vista poderiam parecer razoáveis, como a de que estamos esperando um Messias que não vem.

Devo dizer que tenho opinião contrária.

Todos nós, mesmo os que se julgam em posição muita alta e que tomaram situações que talvez não queiram largar, devemos reconhecer que homens que,