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Sessão de 30 de Julho de 1924 19

reparações, que estão perdidos para a nossa marinha? Confesso que não.

São realmente as comissões da Câmara que têm o dever de examinar os processos que certamente estão feitos, ver em que condições êsses pareceres foram dados, para depois nos poderem dizer aquilo que viram, aquilo que apuraram, a fim de que nós, baseando-nos um pouco na sua opinião, possamos votar conscienciosamente.

Eu declaro a V. Exa., Sr. Presidente, que não sei como hei-de votar.

Não poderá haver outro destino a dar a êstes navios?

Quem me diz que o Estado não lucraria mais aproveitando êstes navios para construção e reparação de outros navios?

Repito: sou leigo nesta matéria; mas parece-me que um barco poderá estar inutilizado, mesmo insusceptível de reparação, e, no emtanto, poder utilizar-se o seu costado, as suas chapas, o seu maquinismo, as peças necessárias para que êsse navio produza, aplicado na construção ou reparação de outros navios, valores mais apreciáveis.

Sr. Presidente: eu sei que esta proposta tem em vista formar o fundo que eu chamaria de beneficiação da actual frota naval, a construção de navios que constituam os elementos de que carecemos para a nossa defesa marítima; mas, Sr. Presidente, sendo êsse plano interessante, mau será que S. Exa. queira começar por recursos tam deminutos como êstes serão certamente para se conseguir uma garantia que não é preciso ser-se da especialidade para logo se saber que é limitadíssima.

Repito, estou inteiramente convencido de que o produto desta venda será insignificante, será irrisório.

Já uma vez, há anos, se tentou vender em hasta pública alguns navios julgados em condições de não servirem ao fim a que eram destinados, isto é, à marinha de guerra. E lembro-me bem que êsses navios foram vendidos em condições péssimas, produzindo uma verdadeira insignificância, tendo sido aproveitados para sucata, com proveito para quem os tinha arrematado; mas, no fundo, sem resultado para o Estado, que recebeu uma verba insignificante, miserável, por essa operação.

Receio que as condições da praça, que não eram então o que hoje são, porque toda a gente tinha facilidade em recorrer ao crédito e ser servido, porque toda a gente tinha um crédito umas poucas de vezes maior que a sua fortuna pessoal, receio, repito, que as condições da praça não tornem viável a tentativa de venda dêstes navios.

Calcule V. Exa. o que não será agora, quando aqueles indivíduos que tinham o maior crédito estão hoje reduzidos aos seus próprios recursos, sem poderem obter qualquer empréstimo, dando mesmo as mais seguras garantias.

É preciso não esquecer que atravessamos um momento em que indivíduos, garantindo mesmo em hipotecas propriedades que valem dez vezes mais, não conseguem obter qualquer empréstimo, não porque haja desconfiança, porque tenham menos crédito, mas porque não há, de facto dinheiro que possa ser emprestado a êsses indivíduos. É vulgar comerciantes que nunca recorreram ao crédito, comerciantes que se em tempo tivessem recorrido ao crédito encontrariam com certeza quantias muito importantes, verem-se hoje na necessidade de oferecerem grandes vantagens sem mesmo assim encontrarem as quantias de que carecem.

Mas, Sr. Presidente, há ainda a acrescentar, porque é preciso não esquecê-lo nunca, que neste momento em que se vai anunciar a venda dêstes navios está a fazer-se a venda dos navios dos Transportes Marítimos do Estado.

Todos sabem o que se tem passado com a venda dêsses navios. O Pôrto, por exemplo, que é um vapor explêndido e que pode fazer concorrência em comodidade e conforto com vapores estrangeiros que fazem as viagens a que se destinava, foi arrematado por uma insignificância, o mesmo acontecendo a outros dos melhores navios.

E é neste momento, quando se verifica que a razão por que êsses navios não são adquiridos é a falta de numerário, que se quere ver se podem ser reduzidos a dinheiro mais três navios de guerra, que se diz estarem inutilizados para o serviço.

Francamente, Sr. Presidente, embora tenha todo o prazer em prestar justiça ás boas intenções do Sr. Ministro da Mari-