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20 Diário da Câmara dos Deputados

nhã, achando-se esta proposta desacompanhada de qualquer relatório que a justifique, eu fico hesitante, sem saber como lhe deva dar é ,meu voto. Para quem gosta de votar com consciência não é indiferente o colocar-se nesta situação. Não gosto de abandonar a sala na ocasião das votações. Gosto sempre de votar; e, estando dentro da sala, sou forçado a fazê-lo porque o próprio Regimento me não permite a abstenção. Sendo assim, se eu tenho de votar, pregunto a mim mesmo se o meu dever não é rejeitar esta proposta.

O único fundamento apresentado para a venda dos três navios é o de que êles estão completamente inutilizados. Ora, embora o meu convencimento não se possa basear em argumentos seguros, quere-me parecer que, pelo menos ao que respeita ao S. Gabriel, se chegou ràpidamente demais à conclusão de que está inutilizado e incapaz de sofrer reparações pára continuar ao serviço. Eu lembro-me de que nós tínhamos um navio a que chamavam Pimpão, e que tendo sofrido várias reparações, se transformou num cruzador couraçado, que é o Vasco da Gama, e que há muitos anos está prestando o serviço que a um barco dêsses compete. E quem me diz se o S. Gabriel, levando uma reparação tam grande como aquela, não ficaria também em condições de vir a prestar serviço durante ainda muitos anos?

Veja V. Exa., Sr. Presidente, o que em tam poucos anos se tem passado. Nós perdemos a República, perdemos o S. Rafael, consideramos inutilizado o Almirante Reis, e êste já nos acostumamos a assim o considerar, vendo-o eu há muito desmantelado quando tenho de atravessar o Tejo.

Vamos agora considerar inutilizado o S. Gabriel, não sei bem como, e já ouvi também falar no Adamastor, tendo daqui a pouco nas mesmas condições o Vasco da Gama. E eu pregunto, Sr. Presidente, o que é que nos fica? Nada, por assim dizer.

Ficam os dois cruzadores adquiridos há três ou quatro anos, o Carvalho Araújo e a República, quatro destroyers, outros tantos submarinos e umas canhoneiras que certamente não resistirão a uma onda maior, se para as ondas a valer as tiverem de mandar.

Quando temos viva na mente a história brilhante da nossa marinha de guerra, notabilizada pelos seus grandes e continuados feitos heróicos, quando nos lembramos de que foi numa verdadeira casca de noz que Vasco da Gama conseguiu chegar até à índia e Pedro Álvares Cabral ao Brasil, confrange-se-nos a alma ao ver que estas unidades são liquidadas em hasta pública, sem ao menos serem substituídas.

Sr. Presidente: o Almirante Reis simboliza a acção gloriosa que em 5 de Outubro teve na revolução que implantou a República.

Pois até êsse vai desaparecer.

Não sou daqueles que têm a fobia dos santos; e por isso, lastimo também que desapareça o cruzador S. Gabriel, que lembra a nau das descobertas marítimas.

Esta proposta é daquelas que nunca deveriam ser discutidas sem que as acompanhasse um parecer das comissões competentes.

Gostaria que alguém me dissesse se dispõe dos devidos informes sôbre a necessidade da venda dêstes navios, para a aprovar com a consciência tranqüila de que cumpriu assim o seu dever.

Algumas razões tinham aquele? que diziam que a marinha devia empregar-se na marinha veleira.

Quere dizer que foi um êrro grave ter vendido um barco que estava em condições de poder ser aplicado ao comércio ainda durante muitos anos.

Fazia-se a afirmação de que não estava em condições. Outras afirmações ainda vieram.

Depois veio o arrependimento; e os que se arrependeram do mal não se ocuparam mais dêste problema.

Eu tenho um medo horrível dos males sem remédio, porque perante o irremediável não servem de nada nem as censuras, nem as recriminações, nem as lamentações.

Ora nos últimos tempos temo-nos encontrado permanentemente perante situações irremediáveis.

É claro, o resultado é dizer-se: agora já não há remédio; e nem ao menos as responsabilidades se destrinçam.

Ainda hoje se deu nesta Câmara um caso que justifica inteiramente esta minha afirmação.