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14 Diário da Câmara dos Deputados

navio que ainda há bem pouco tempo era considerado o melhor de toda a nossa frota: o Vasco da Gama.

Ainda hoje quando passei perto do rio vi. o cruzador S. Gabriel, parecendo, nas suas linhas airosas, pronto para todo o serviço, quando afinal dizem que é um navio condenado.

Não sei, mas qualquer cousa se segreda que êste navio ainda podia ser aproveitado para qualquer serviço da armada.

Não vou, Sr. Presidente, repetir à Câmara as considerações que ontem fiz pelo que respeita ao aspecto que eu chamarei moral desta proposta, não referirei de novo as invocações que êstes navios vêm fazer no nosso espírito pelo que respeita à sua passada acção e aos nomes gloriosos que têm pintados nos cascos; não lembrarei de novo à Câmara que foi o S. Gabriel que fez essa viagem da volta ao mundo para instrução de aspirantes, viagem que está na memória de todos; não frisarei que a nossa esquadra ,está hoje tam reduzida que chega a ser crueldade reduzi-la ainda mais.

Não vale a pena insistir nos pontos de vista que ontem abordei pelo que respeita ao momento que atravessamos e à certeza que é fácil ter de que a venda dêsses navios ou não chegará a realizar-se, por ficar deserta a praça, ou terá de ser feita ao desbarato; mas não é de mais insistir em pontos de vista da importância dêste que desejo frisar uma vez mais.

Sabe V. Exa. a situação em que se encontra a praça, sabe V. Exa. a dificuldade que há, ainda para aqueles que de maior crédito sempre têm gozado, de poder obter-se créditos que ontem eram até considerados insignificantes, e que hoje não se realizam mesmo com as melhores garantias.

Sr. Presidente: se assim é, se a falta de escudos é tal que dessa falta resulta não só a paralisação das construções como a paralisação de todos os negócios, como é que pode pensar-se em pôr à venda navios que valeriam, se obtivessem justo apreço, quantias muito elevadas, mas que assim não será possível obter.

Mas, admitida a hipótese de se obterem essas quantias, não seria esta operação mais um factor para retirar da circulação as quantias que em circulação se encontram?

Não seria mais um processo para tornar mais raros os escudos, já hoje tam raros?

Não seria mais um factor da carestia da vida?

Acaso ignora V. Exa. o Sr. Presidente, que a maior parte dos empréstimos não sé, obtêm hoje com juro inferior a 20 e 25 por cento e que, portanto, a falta de escudos vai tornar mais elevado êsse juro?

Mus, há mais alguma cousa.

Acresce a esta circunstâncias mais uma, não menos importante, e por mim já ontem apontada, e é que só compra navios quem de navios carece e, no momento em que está à venda mercadoria similar e melhor, certamente a procura vai toda para a mercadoria melhor.

Concretizando, desde que está a proceder-se neste momento à venda dós vapores dos Transportes Marítimos do Estado, como se compreende que alguém vá preferir a êsses vapores os velhos arcaboiços dos navios de guerra, que para cousa alguma podem ser aplicados, com mais vantagem do que os outros vapores?

Em todo o caso, Sr. Presidente, e chamo para isto a atenção de V. Exa. são justamente êsses navios e a sua venda a prova absoluta da verdade que existe na afirmação que ontem fiz, do mal que à praça e ao custo da vida pode representar a alienação de mais êstes navios.

Mas, Sr. Presidente, não terão contribuído para que mais raro se torne o escudo êsses navios que têm sido vendidos, os depósitos feitos se é que têm sido feitos?

As quantias mínimas que por lei são exigidas aos arrematantes não terão contribuído de algum modo para fazer escassear a moeda?

Fixou-se em 20 por cento, somente, a quantia que havia de ser depositada em seguida à arrematação de cada um dos navios adjudicados em praça. Tenho de reconhecer, sem sacrifício e sem esfôrço, que, se a quantia a depositar fôsse maior, ela representaria alguma cousa muito prejudicial para a situação do mercado, porque se é certo que nos cofres do Estado entraria uma quantia muito maior, também não é menos certo que essa quantia seria retirada do mercado onde tam necessária ela é.