O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 6 de Novembro de 1924 19

pode pensar a sério na vida e decidir-se, emfim, a esquecer os seus ódios. Mas êsse homem deve à minha amizade actos que ninguém que tenha um pouco de consciência moral poderá deixar de recordar.

Se alguém fizesse por mim o que eu fiz por êsse homem, e êle me esbofeteasse, eu não teria coragem de me desafrontar.

Um dia, no momento em que êsse homem era castigado e preso em virtude duma questão que se suscitou entre êle e o general Dantas Baracho, fui eu quem conseguiu levar à cadeia a visitá-lo o seu próprio filho, que tinha as relações cortadas com o pai.

Mais ainda: quando numa campanha entre pai e filho os insultos ferviam e se desencadeavam, eu, mais do que ninguém, trabalhei para que acabasse essa vergonha e para que da parte do filho êsses insultos deminuíssem.

Sr. Presidente: será cobardia, mas eu julgo que se tivesse um dia a desgraça de meu filho ficar mal comigo e se houvesse um homem que me congrassasse com êle nas horas difíceis da vida, será cobardia, repito, mas, se êsse homem me esbofeteasse, eu não mo defendia!

Pois o homem que tudo isso me deve deu entrada na minha Faculdade — êle que era um insociável e que não houve nenhum homem público, nenhum nome honrado que êle não insultasse. Pois eu recebi-o, o com êle convivi durante três anos! E que eu não julgo ninguém incapaz de regeneração; eu que sei que nó seu coração, no fundo, alguma cousa de bom há-de ter, eu tive a ilusão, Sr. Presidente, de me supor o Moisés daquela rocha e que um pouco de água pura poderia fazer brotar daquele penhasco.

Êsses três anos de convivência foram três anos de transigências dá minha parte, foram três anos dum esfôrço permanente para retirar da cabeça dêsse homem que eu era seu inimigo, e tanto assim foi que mais de uma vez se me dirigiu, a dizer-me que outros professores lhe diziam que o queriam fazer instrumento contra mim. E êsse homem, que se julga a mais alta mentalidade do Portugal, foi bem o mais banal dos homens!

Exigiu de mim que castigasse um aluno que lhe respondera inconvenientemente,
dizendo-me que não voltaria à Faculdade sem que êsse aluno fôsse castigado e eu respondi que se fazia um processo e que êle seria castigado.

Pouco tempo depois recebia uma carta dêsse homem, dizendo: «ou os senhores expulsam êsses garotos, ou eu faço escândalo no meu jornal».

Poucos dias depois essa campanha apareceu, pois julgara, talvez, que eu ainda fôsse conversar com êle e intentar alguma cousa para que não rebentasse essa campanha de calúnias e ódios.

Mais duas cartas foram dirigidas ao reitor e ao professor Mendes Correia, e nessa carta se apelava para o Conselho, ameaçando-o, dizendo que, se o Conselho não expulsasse o garoto, a própria Faculdade sentiria o que era o pêso de uma campanha.

Pois muito bem: podem falar à vontade, pois que para mim pouco me importo com isso, visto que aguardo com serenidade que justiça seja feita, tanto mais quanto é certo que eu já tive a glória do ver a forma como êsses rapazes se portaram, facto êsse que se deve única e simplesmente à grande amizade que êles me têm.

Encontra-se nesta casa do Parlamento um Deputado, que é o Sr. Pina de Morais, que sabe bem a amizade que êles me têm e que poderá, portanto, confirmar o que acabo de dizer.

Sr. Presidente: as infâmias, as calúnias e as cartas que recebi em minha casa eram tantas que eu vi-me na necessidade de recorrer para o Conselho, tendo tido o cuidado de não tomar qualquer resolução individual, mas sim por intermédio do Conselho, de que aliás faço parte como director da Faculdade.

Foi o que eu fiz; porém, as infâmias e as calúnias foram a tal ponto que chegaram a insultar e a injuriar um filho meu de 10 anos.

É preciso ser-se muito cruel para chegar ao ponto de insultar uma pobre criança de 10 anos, crueldade na verdade, Sr. Presidente, que poderia fàcilmente fazer perder a serenidade àquele que era seu pai.

Corno se fizeram também algumas insinuações à Faculdade do Letras da Universidade do Pôrto, a Faculdade viu-se na necessidade de enviar para o Ministé-