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Sessão de 6 de Novembro de 1924 21

meu publicado, chamado Adoração, era um conjunto de cartas de namoro a uma senhoril que tinha passado na minha Faculdade, como aluna.

E porque isso envolve insídias graves, a isso quero responder.

Todas as acusações dos homens do Pôrto, que constituem êsse grupo que está mamando à teta do Ministério do Comércio, parece que caíam nesse pormenor.

Estão aqui Deputados que depuseram o ainda outros que conhecem o caso. Pois bem!

Isso não é mais nem menos do que uma lírica escrita por mim há dez, doze e dezoito anos.

Eu não sou D. Juan!

Não tenho nada de conquistador!

Mas estaria no meu direito em tomar quem entendesse para musa dos meus livros subjectivamente amorosos.

A aleivosia é tam infeliz que o recurso consistiu em apelar para um livro que colecciona o que eu já escrevi há dez anos, há catorze anos e até há dezoito anos!

Eis a grande e única acusação contra a minha pessoa, a que quis responder e respondi.

Quanto aos que me acusam pessoalmente, eu só tenho a dizer-lhes que tenho um profundo desprêzo de tudo quanto parto de acusações nesse sentido, dessas pessoas, porque no fundo da minha alma há piedade para todos os homens, e dói muito ver homens de cabelos brancos, porventura já bem perto da morte, sem uma claridade de ternura, sem nenhuma ansiedade de confraternização social.

Essas acusações são ridículas e não me interessam!

As acusações doutra, ordem!

Quais são?

Constituem em dizer que eu sou estúpido o escrevo mal.

Com efeito escrevo mal, porque escrevo pior do que devia escrever. Decerto que sou estúpido; não entendo a décima parte do que queria entender dos mistérios da vida.

Mistérios da vida e homens têm uma larga zona de sombra para mim!

Mas o que me importa agora é mostrar a incapacidade de quem acusa.

Para isso me bastará frisar algumas das acusações feitas.

Algumas acusações eu quero, pois, frisar para mostrar a nulidade intelectual daquele que me faz acusações.

Pegou um dia num dos meus livros o encontrou esta expressão: «Dados imediatos da consciência». Entende então que é burro quem escreveu isto. Êsse homem ignora que foi um grande filósofo que a êsse conceito me autorizou.

Tom êle um livro, e tendo eu de referir-me a êle, como modificar o nome?

De rosto, não faço à Câmara a injúria de supor que tenho dúvidas sôbre a significação destas palavras: «Dados imediatos da consciência».

Nós apreendemos na nossa consciência dados imediatos.

Outra acusação grave-: a de que eu falava nas «criptogâmicas da sombra». Na verdade, em certa altura dum livro eu falava nas «melindrosas criptogâmicas da sombra». Ora, quem escreve isto, que é perfeitamente estúpido, não pode ser professor.

É claro, porém, que as plantas que vivem na humildade, como as avencas, os fetos, são, na realidade, melindrosas criptogâmicas. Eis no que consiste a cultura dum homem que julga ter o prestígio e o privilégio do talento e da honra.

Mas o mais grave é que tudo era acompanhado daquela linguagem que não poupa ninguém. (Apoiados). Não há um homem honrado e distinto da massa anónima que a linguagem viperina dêsse indivíduo não tenha procurado atingir. E porque assim é, e porque ao Sr. Ministro da Instrução faltaram documentos para formular desde logo um processo, permitir-me hei ler à Câmara duas ou três passagens.

Leu.

Meus senhores: isto pode realmente produzir o riso, porque há factos que são para isso. Nem isto mesmo o devia produzir. (Apoiados). Não é para colaborar numa obra, não é para trabalhar, não é para representar o povo, defender os altos interêsses da Nação que êsse homem aqui vem, mas apenas para dizer, como um valente: «Não tenho medo de ninguém!».

Isto não é para rir, e menos ainda o é que êsse homem, que não tem poupado ninguém, tenha escrito êste outro bocado:

Leu.