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Sessão de 18 de Novembro de 1924 25

Até há pouco tudo tinha sido deixado um pouco à sorte das pessoas que governavam as províncias; mas, quando foi do armistício, entendeu-se que era necessário dar-se um abanão profundo na nossa administração colonial e fazermos a província de Angola rica e próspera. Foi por isso que para lá mandámos um homem que nessa altura reunia os votos de todos os republicanos.

O Sr. Norton de Matos com êsse mandato imperativo de trabalhar muito e depressa, deixou-se, porventura, deslumbrar pela alta missão de que ia incumbido.

Quis então trabalhar muito o depressa! Trabalhou mal?

Estamos em altura do exigir responsabilidades a quem saltou por cima da lei, que está acima de todos nós.

Não se entre, porém, no caminho de denegrir a reputação de um homem que muito tem feito pela Pátria e que ainda neste momento, ocupa um elevado cargo da nossa representação nacional.

Votarei, pois, um inquérito à administração da colónia de Angola.

Votarei, emfim, qualquer cousa que sirva para estabelecer um plano de acção colonial maduramente estudado e depois firmemente seguido, evitando-se assim que os governadores ou os altos comissários obedeçam aos seus impulsos de momento.

Votarei assim, mas sem nenhum intuito de ataque a um homem, que, apesar de tudo e até prova em contrário, continua a merecer a minha consideração pessoal.

Digo estas palavras na altura em que quási todos porfiam em atacar êsse homem, tanto mais à vontade quanto é certo que fui eu um dos que, desde a primeira hora em que S. Exa. abandonou a província de Angola, afirmaram que semelhante acto representava uma deserção.

Isso foi um êrro indesculpável.

Mas, pensando assim, eu estou longe de admitir como cousa quási comprovada que êle houvesse cometido qualquer acto menos honesto no desempenho das suas funções.

Posto isto, pregunto: O que urge fazer?

Vamos parar no que está feito?

Porque o Sr. Norton do Matos comprou carris a mais e bem assim outros materiais diversos, vamos deixar que tudo se estrague, vamos abandonar novamente a colónia de Angola à sua própria sorte?

Vamos deixar que, porventura, continuem a incidir sôbre nós as vistas cubiçosas da Itália e da Alemanha, sem nos defendermos?

Ou vamos antes fazer um último esfôrço, um enérgico esfôrço para levantar e salvar Angola?

Sr. Presidente: sou dos que entendem que, uma vezes estabelecido um bom plano colonial, a Pátria e a República têm do gastar todas as suas energias em defesa das colónias.

Para isso há que aproveitar-se todo o material que já existe em Angola e comprar-se o que ainda seja necessário, porque temos do dotar aquela província com todas as linhas férreas de que necessita, de apetrechar Os seus portos e de promover o fomento da província.

É necessário que tudo isto só faça; pois errado é o critério que muita gente tem de que as colónias são de si próprias tam férteis e ricas que basta ir lá colhêr e trazer para cá.

Como alguém disse, a África tem o solo, a água, a luz e os habitantes, mas tudo isto constitui elementos de riqueza latente.

Há, pois, que aproveitar e desenvolver essa riqueza.

Existem possibilidades para criarmos tanto em Angola como nas outras colónias largas fontes de riqueza?

Vamos a aproveitá-las, porque disso necessitamos para as salvar e para cumprir o nosso dever.

Já vai longe o tempo em que se reconhecia às nações o direito de guardarem porções de terreno simplesmente porque as descobriram.

Hoje há mais altos deveres a cumprir! Não possuímos as colónias somente para as guardarmos como nossas filhas. Temos de as desenvolver o respeitar os seus direitos civis e religiosos.

Emfim, temos a obrigação de as colocarmos em situação de poderem disfrutar também uma porção do bem material que possuímos. Só assim seremos dignos do nome de colonizadores e de aparecer ao mundo com direito de nos defendermos das vistas cobiçosas lançadas sôbre os nossos domínios coloniais.

Por isso, digo: é necessário êsse inqué-