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Sessão de 20 de Fevereiro de 1925 17

Dirão talvez que não é nobre nem alevantado que nós ponhamos em público estas afirmações.

Mas então, não estou eu no bom terreno, eu que nessas reüniões defendi à outrance a constituição do Govêrno do Sr. Vitorino Guimarães, apresentando, nêsse momento, uma moção da mais sentida e absoluta confiança?

Mostremos ao País que não andamos na política com quaisquer interêsses reservados ou mesquinhos, mas que estamos animados de grandes e belos pensamentos, procurando fazer, de facto, uma República que possa contribuir para o bem estar da Nação.

Sr. Presidente: se não se tivesse tornado a falar nas palavras proferidas pelo meu amigo, o Sr. José Domingues dos Santos, depois do discurso por êle proferido aqui ontem, eu não me tornaria a referir a elas. Mas, infelizmente, e digo-o com sinceridade, já hoje, nesta casa, três oradores voltaram a referir-se a elas.

Bem me fica, e obrigado me considero, portanto, a elas me referir, procurando marcar a minha posição e dar-lhe aquele significado que elas, de facto, podem ter.

Sr. Presidente: qual foi a razão por que se fez cair o Govêrno presidido pelo Sr. José Domingues dos Santos?

Na aparência, em virtude da moção votada, por virtude daquelas duas frases, hoje já históricas, e que, quer V. Exas. queiram, quer não, marcam de facto um momento histórico na vida política da República Portuguesa. E, se assim não fôsse, elas não teriam provocado o largo debate que há muitos dias se vem arrastando.

Se elas fôssem palavras banais, sem objectivo, V. Exas. com certeza não as discutiriam com o calor com que o têm feito.

Todos temos assistido nesta casa do Parlamento a discursos mais ou menos brilhantes, mas nunca vi que quaisquer palavras tivessem produzido um tão longo debate como aquelas que proferiu o Sr. Presidente do Ministério transacto. Quer V. Exas. o queiram ou não, essas palavras marcam uma orientação política como o gesto da Câmara, derrubando o Govêrno, marca também uma data na República Portuguesa.

As palavras do Sr. José Domingues dos Santos, quando disse que o Govêrno estava ao lado dos explorados contra os exploradores, e que a fôrça pública não se fez para espingardear o povo, não podiam motivar a tempestade política que se levantou.

V. Exas. sabem que há o processo de se fazerem demonstrações pelo absurdo e assim a atitude de quem protesta contra as palavras do Sr. José Domingues dos Santos, quando disse que estava ao lado dos explorados contra os exploradores, parece significar que os que protestam defendem a doutrina contrária.

Eu pregunto se existo alguém que negue que há grande número de pessoas que têm sido exploradas constantemente.

Eu pregunto se os homens que se bateram na guerra, que nela se inutilizaram ou perderam a vida, emquanto outros cá ficaram e à custa da guerra fizeram negócios e tiraram lucros ilícitos, eu pregunto se aqueles não foram os explorados e êstes os exploradores.

Mas se existe êste desiquilíbrio, derivado das circunstâncias da guerra, pregunto se as palavras do Sr. José Domingues dos Santos - que por S. Exa. tinham sido proferidas quando tomou posse do Govêrno - representam um crime.

Também se disse que a atitude de S. Exa. tinha sido inoportuna.

Que tremenda injustiça se faz a S. Exa.!

Foi a atitude de S. Exa. que evitou acontecimentos gravíssimos.

Todos nós temos grande consideração pela fôrça pública, que nessa noite não fez uso das espingardas nos termos que aqui já foram aconselhados.

Sr. Presidente: se efectivamente não tivesse havido o propósito preconcebido de fazer cair o Govêrno, a discussão não teria sido orientada da forma como o foi.

A quem aproveitava o crime?

Creio que é esta interrogação um dos processos mais usados de investigação para se chegar a certas e determinadas conclusões.

Basta responder a esta pregunta para se ver que de forma alguma se poderia com serenidade, imparcialidade e justiça, criminar o Presidente do Ministério ou o Govêrno pelos factos passados a quando dessa manifestação.

Foi ainda a habilidade política, à falta de verdade e clareza, que arranjou esta