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Sessão de 13 de Março de 1925 17

que não seja cumprido, porque só isso é que lhe poderia acarretar o descrédito. Eis porque entendo que, realmente, o Banco é um dos culpados da crise de Angola; e tanto o foi que, segando confessa a comissão de colónias, foi por virtude de êle não fazer as transferências que na Metrópole se soube da crise económica de Angola.

O Sr. Brito Camacho (aparte): - Chegou até ao Ministério das Colónias.

Risos.

O Orador: - O Banco, vendo que não podia cumprir o contrato, e vendo que da parte do Estado se contava absolutamente com a boa fé do Banco, veio pedir qualquer aumento de prémio, e isso como medida para poder cumprir realmente o contrato.

Creio que o Alto Comissário não entendeu que êsse aumento de prémio pudesse regular a situação, não o consentindo. Mas lembrando o Banco que os pagamentos que se fizessem por conta do dinheiro do empréstimo o deveriam ser só em notas de Angola, o Alto Comissário aceitou o alvitre, mas a breve trecho o Banco acusa-o de ser êle que ocasiona a desvalorização dessas notas, depois não faz mais transferências e começa a nota de Angola a andar por toda a parte em busca de cambiais, que consegue efectivamente, mas por preços exorbitantes.

Assim foi, e o que aconteceu a toda a colónia?

Faltando as transferências no Banco, começou-se a comprar por todo o preço os géneros coloniais, vista a grande procura; géneros que em Lisboa eram vendidos por preços muito baixos, porque a necessidade de arranjar dinheiro era enorme e portanto havia o aumento da oferta.

Dêste fenómeno resultou que as transferências assim obtidas pela compra em Angola de géneros e a sua venda em Lisboa chegaram a custar 30 a 40 por cento, vendo-se os comerciantes na obrigação de elevarem consideràvelmente os géneros de consumo em Angola, o que elevou por maneira insuportável o custo da vida, e das novas despesas com o aumento de vencimentos, paralisação das importações,
emfim uma perturbação económica assustadora.

E a tal estado se chegou com a dificuldade de transferências.

E mais um argumento para comprovar que, realmente, o Banco tem graves responsabilidades na crise de Angola.

Mas seria só êle?

Não. Realmente quem administrou e estava à frente de colónias tem responsabilidades; devia saber os meios financeiros com que contava para poder levar a bom fim os altos empreendimentos em que se metera, e deveria ter distribuído os recursos que do crédito conseguira por forma bem reflectida e de maneira que êles não tivessem ficado sem realização na sua maioria, além de pela fôrça das circunstâncias se ter usado do recurso ao crédito e daí a estagnação económica e a crise que a assoberba.

Êste fim era inevitável a meu ver, e vá isto dito sem que represente qualquer falta de respeito por quem estava à frente da colónia de Angola, por quem tenho a máxima das considerações, embora tenha de confessar que errou, o que de resto só não acontece a quem não tem onde exercer a sua actividade, sobretudo em funções de mando.

Não há ninguém, que conheça Angola, que não saiba que os seus melhores instrumentos de colonização são hoje as estradas e as linhas férreas.

Onde passa um caminho de ferro acabam as guerrilhas indígenas e cessam os abusos por estas provocados, vendo-se surgir imediatamente lindas granjas, povoações e estabelecimentos comerciais.

O Sr. Brito Camacho (interrompendo): - Peço desculpa a V. Exa., mas isso não acontece em toda a África.

Em Moçambique há muitos pontos servidos pelo caminho de ferro e que não têm nenhum tráfego.

O Orador: - Isso são apenas excepções a reforçarem a regra geral.

Em Angola sucede que o caminho de ferro é um elemento indispensável para o exercício pacifico da nossa soberania, e para o tráfego e o desenvolvimento da agricultura, comércio e centros de população.

A província de Angola tem muitas po-