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20 Diário da Câmara aos Deputados

Êsse relato não nos permite, evidentemente, lazer a crítica dos últimos acontecimentos, a averiguação de todos os responsáveis, a definição de todas as res-ponsabilidades.

Do que o Sr. Presidente do Ministério disse à Câmara fica-nos, apenas, o direito a nós republicanos de nos associar às palavras de justíssima homenagem que o Sr. Vitorino Guimarães dirigiu às entidades que colaboram com o Govêrno na manutenção da ordem pública.

Não há ainda muito tempo que nesta Câmara, a propósito de um incidente do somenos importância, e que não foi averiguado como devia, o assalto ao Quartel General, toda a Câmara disse ao Sr. Presidente do Ministério que podia contar com o seu apoio, para manter a ordem pública.

O país, na verdade, está cansado de perturbações e de desordens, tanto das perturbações o desordens armadas, como das perturbações e desordens políticas, que não chegam a ter realmente expressão armada, que não chegam a dirigir-se fora dos gabinetes dos políticos e das ante-câmaras das personalidades a quem o país confiou os seus destinos, o que muitas vezes, justo é dizer-se, se esquecem das tremendas responsabilidades que sôbre elas pesam.

Sr. Presidente: sou dos que pensam que não ora possível em Portugal mais nenhum movimento revolucionário, se nós republicanos tivéssemos cumprido a nossa obrigação, se os partidos fossem o que deveriam ser, se o Parlamento tivesse cumprido sempre integralmente a sua obrigação, e, não fazendo quaisquer censuras, não posso deixar, de lastimar o que nas últimas sessões desta Câmara se passou relativamente ao problema dos fósforos, que deu motivo a muitas suspeicões, a muitas campanhas e a muitas reservas lá fora.

Mas, não é agora ocasião de se apurarem responsabilidades. O relato que o Sr. Presidente do. Ministério aqui nos trouxe impõe-nos a obrigação de aderir às palavras de justíssima homenagem que S. Exa. proferiu, em relação as entidades que tolaboraram com o Govêrno para dominar a insurreição de carácter militarista, que teve a sua eclosão no sábado passado.

Sr. Presidente: o Sr. Presidente do Ministério concluiu o seu relato, apresentando à Câmara uma proposta para que seja prorrogado o estado de sítio.

Equivale isto a dizer, que S. Exa., é o primeiro a reconhecer que ainda não é oportuno fazer a crítica dos acontecimentos e de preguntar se todas as entidades que deveriam ter colaborado com o Govêrno para o prevenir cumpriram a sua obrigação.

A seu tempo, porque a Câmara o deseja e o país o reclama, essa crítica só fará.

Sr. Presidente: o Sr. Presidente do Ministério, referiu-se a um incidente de carácter político, que motivou a saída do Sr. Ministro da Guerra, dizendo que se tratava de um lamentável equívoco.

Não é o momento para fazer um largo debato político, não há que discutir agora êsse facto nem de definir se se trata de um lamentável equívoco ou de qualquer cousa mais.

O Sr. Vieira da Rocha é um militar a cujos merecimentos nesta Câmara tenho ouvido fazer honrosas referências e não é com esta simples expressão "lamentável equívoco" que se justifica a saída do Sr. Ministro da Guerra após a dominação de um movimento revolucionário, em cuja sufocação S. Exa. evidentemente superintendeu.

A apreciação dêste facto fica para quando a Câmara achar oportuno.

Sr. Presidente: feitas estas rápidas considerações, direi a V. Exa. e à Câmara que voto o pedido de autorização formulado pelo Sr. Presidente do Ministério, e voto-o porque sinceramente junto às saudações que foram dirigidas ao Sr. Vitorino Guimarães e aos seus colegas de Gabinete, as minhas saudações sinceras pela firmeza com que S. Exa. e os seus colaboradores souberam agir, num momento verdadeiramente excepcional.

Sr. Presidente: devo em todo o caso fazer ao pedido do Sr. Presidente do Ministério uma restrição. Faço-o com absoluta sinceridade, fora de qualquer espírito de política, sem qualquer intenção de agradar a A ou a B, mas no cumprimento de uma obrigação, não podendo nunca ser acusado de qualquer acto ou palavra contra a liberdade dos outros.

Refiro-me, Sr. Presidente, à censura