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Sessão de 21 de Abril de 1925 21

aos jornais de Lisboa e à suspensão de alguns.

Compreendia-se, suspensas as garantias, que durante as operações o Govêrno exercesse a censura sôbre os jornais. Digo-o sem receio de me sentir deminuído na minha qualidade de jornalista.

Compreendia-se, repito!

O Govêrno tinha o direito e o dever de defender-se e defender a ordem, que podia ser, consciente ou inconscientemente, perturbada, se êsses jornais publicassem determinadas notícias. Mas, dominado o movimento nas condições em que o Sr. Presidente do Ministério acaba de declarar, posta a correr a notícia de que o Sr. comandante da divisão permite em Lisboa espectáculos públicos, afirmado o desejo de que o Parlamento funciono e discuta medidas de interêsse público e o de que o Govêrno se não dedique exclusivamente ao apuramento das responsabilidades e que antes continue numa obra de colaboração estreita com o Poder Legislativo, mal se entenderá que sôbre os jornais se exerça realmente a censura.

Por muitas razões que o Sr. Presidente do Ministério tenha (pode todas e se as tem e entende que não deve dizê-las neste momento eu não apelo para S. Exa. para nos dizer quais são), por muitas razões que S. Exa. tenha, repito, contra as pessoas que nos jornais escrevem o que podiam, porventura, fora da sua situação do jornalistas, ter tido qualquer intervenção nos acontecimentos, não necessita S. Exa. de exercer qualquer violência ou medida excepcional contra os jornais.

A censura, Sr. Presidente, e uma faca de dois gumes. Se serve ao Govêrno para se privar de determinadas críticas e informações, dá também o pretexto para que os leitores dos jornais façam, por vezes, a respeito das censuras os piores comentários e suponham, por vezes, as cousas muito piores do que elas são.

Se necessitamos de fazer uma obra de acalmação - como muito bem disse o Sr. Álvaro de Castro - o Sr. Presidente do Ministério fazia bem, honrava-se sem dúvida, dava uma prova do seu alto espírito de liberdade o de democracia, excluindo da sua proposta o n.° 13.° do artigo 3.° da Constituição.

Por mais que S. Exa. possa supor que a censura lho pode ser útil, eu tenho a absoluta certeza, falo com plena consciência e com a maior sinceridade, que S. Exa., o Govêrno, a averiguação das próprias responsabilidades nada lucrarão com essa censura aos jornais.

Sr. Presidente: a imprensa tem muitos defeitos. Reflecte todos os defeitos da nossa política, todos os defeitos do meio em que vivemos. Nem podemos criminar mesmo aquela que em certos momentos nos é antipática, porque noutros é precisamente a que se nos torna mais simpática. Pessoas há que, em certos momentos, clamam contra os jornais e os acham impróprios para realizar a missão que desejariam que êles tivessem, mas, noutros, são as primeiras a fazer-lhes elogios porque os jornais lhes fizeram então o seu jôgo.

Infelizmente a política em Portugal tem-se feito com muitos altos e baixos e a Imprensa que devia ser estranha a êles e cuidar apenas do exercer a sua missão, tem também que exercer a sua acção aos altos e baixos...

O Sr. Júlio Gonçalves (em àparte): - Quando não é feita só com baixos.

O Orador: - Sr. Presidente: o Sr. Júlio Gonçalves diz-me aqui ao lado que a imprensa só tem baixos.

Evidentemente S. Exa. é uma pessoa que pode ter a respeito da imprensa as opiniões que quiser; é, porém, injusto e tenho a certeza de que o Sr. Júlio Gonçalves, assim como todos os Srs. Deputados, quando deixam de ser justos, hão-de descontentar-se comsigo próprios, à ar de haver um momento na sua vida pública em que S. Exa. tenha achado bom á atitude de determinada imprensa.

Se somos todos iguais, não temos os mesmos princípios, os mesmos objectivos.

Sr. Presidente: em seguimento das minhas considerações devo declarar a V. Exa. e à Câmara que não mo parece que o Sr. Presidente do Ministério careça da autorização que pede.

Não só compreenderia que ao mesmo tempo que se exercesse a censura à imprensa se determinasse a supressão de certos jornais.

Então, Sr. Presidente, temos de confessar que em Portugal estamos todos fora dos nossos lugares.