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10 Diário da Câmara dos Deputados

no Liceu de Camões, do Congresso do Partido Democrático. Como se viu, votaram 2:300 eleitores. Entretanto, essa eleição durou até as 19 horas, segundo veio nos jornais. Já V. Exa. vê que se fôr alargado a 1:200 o número do eleitores, em vez de 600, que em o número máximo em cada assemblea de Lisboa, vamos fazer certamente com que nossas assembleas as eleições se prolonguem até horas avançadas, tendo de ficar muitas vezos a votação para o dia seguinte.

Creio que o Parlamento não quererá desde já começar a votar trapalhadas para as eleições de Lisboa, o que, pelo contrário, os Srs. Deputados hão-de querer que os actos eleitorais se não pareçam com o que têm sido em todo o país, e nomeadamente na capital.

Qual é a vantagem que possa haver para justificar êste projecto?

Se nós sabemos que com o número de 600 eleitores as eleições costumam durar até as 17 ou 18 horas, como é que, sinceramente, se quere alargar êsse número para o dôbro?

Isto não é a lei n.° 862, é a lei n.° 10:862, da República, porque outra cousa não é senão preparar a chapelada.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): - Porque é que V. Exas. fizeram o Peral? É claro que êles aprenderam.

O Orador: - As últimas eleições foram tam liberais que até me partiram a cabeça, e o Sr. Cunha Leal não vibrou na sua sensibilidade republicana...

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): - Entre a minha, sensibilidade e a de V. Exa. não há têrmo do comparação; mas custa-me que se presto tam pouca homenagem a quem quis fazer eleições tam liberais que evitaram até que abrissem definitivamente a cabeça a V. Exa.

O Orador: - Em todo o caso abriram-me a cabeça provisoriamente.

Eu não pretendo insinuar que fôsse V. Exa. quem mandou praticar êsses actos.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): - Quero dizer a V. Exa.. que pela primeira vez, como Ministro do Interior, reuni os governadores civis e disse-lhes, que desejava que não se cometesse nenhum atentado contra a liberdade do voto.

O Orador: - Veja V. Exa. como eu sou justo V. Exa. deu as suas ordens, o que acredito piamente, mas, permita-me que lhe diga, foi um pouco fraco.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): - V. Exa. não me emprestou a sua fôrça!

O Orador: - V. Exa. é que devo estar muito arrependido de ter emprestado a sua ao Partido Democrático para fazer as eleições.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): - Não sei se V. Exa. foi uma das pessoas a quem eu salvei a vida quando tomei conta do Govêrno. Disso não me arrependo, como não me arrependo do ter tomado conta do Govêrno, porque o Sr. António José de Almeida me disse que eu seria um criminoso se não quisesse obedecer às suas sugestões para evitar assassínios em Lisboa.

O Orador: - Talvez V. Exa. hoje, no Poder, não adoptasse a mesma atitude política.

Terminada esta conversa com o Sr. Cunha Leal, tenho a dizer que não posso votar o projecto, porque êle tem outro fim, que é o mesmo eleitor poder votar em diversas freguesias. Uma verdadeira burla eleitoral.

Lançar impostos sôbre impostos o impedir àqueles que são espoliados com as maiores violências tributadas o seu direito de voto é, Sr. Presidente, justificar todas as revoltas contra os poderes constituídos, que outros não são, emquanto adoptarem processos desta ordem, senão Governos de desordem e Parlamentos de desordem.

É curioso, Sr. Presidente, o argumento apresentado no relatório do parecer, para o justificar. E porquê, diz o parecer, às vezes as eleições acabam muito cedo, e o cidadão, para ir votar, tem de perder meio dia de trabalho.

Ao domingo perde o eleitor meio dia de trabalho para ir votar antes das 14 horas?

Êste argumento, a forma como êle está apresentado e as razões com que se procura justificar êste parecer são mais do