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Sessão de 16 e 17 de Julho de 1925 31

simplesmente, como já o observou Q Sr. Rodrigues Gaspar, para agarrar pelos cabelos qualquer pretexto para derrubar o Govêrno que indiscutivelmente tem uma atmosfera de confiança no País.

Só por isto e para isto se prorrogou a sessão legislativa!

E nem sequer houve o pudor inteligente de deixar passar alguns dias para, com certa elegância até, levantar aqui uma questão política, pondo em risco a vida de Ministério.

Pode cair o Govêrno; mas oxalá não veja amanhã envolvidos em mais rija peleja aqueles que são ainda hoje irmãos de armas!

Pode cair o Govêrno. Mas é tam pobrezinho o scenário desta comédia e tam pouco gloriosa a vitória, que não sei se alguma cousa de útil se poderá construir sôbre êste campo de batalha.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando nestes termos restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

Os àpartes não foram revistos pelos oradores que os fizeram.

O Sr. Cunha Leal: - Sr. Presidente: o Sr. Manuel Fragoso há pouco disse uma cousa que talvez seja uma verdade. E que nós nos esquecemos muitas vezes de que o País existe.

(Apoiados).

É facto.

Quem assistir às nossas querelas nem sempre levantadas de intuitos, nem sempre prestigiadas pelas atitudes; quem assistir à evolução duma política complicada de chicanas e de mesquinhos interêsses pode por vezes suspeitar de que nos esquecemos do País.

Eu quero dar razão ao Sr. Manuel Fragoso.

O País existe. E qualquer cousa que se sente, que existe.

Trabalha através de todas as dificuldades que nós levamos ao seu trabalho. Trabalha sossegadamente. Abriu de há muito os olhos para verificar se aquelas pessoas que andam agitando-se no hemiciclo de S. Bento não são destituídas de razão, não são subvertidas pela loucura.

O País olha-nos de facto-porque não dizer a verdade - olha-nos com um bocadinho de espanto, em que também se mistura um bocadinho de horror.

Apoiados.

Como é possível, perante a realidade palpável que é um País, fazer vibrar nas nossas almas outro sentimento que não seja aquele que derive do nosso desejo de o servir a êle que nos paga, a êle que nos fez gente?

Mas, Sr. Presidente, se é verdade que tantas vezes nós nos esquecemos de que o País existe, se é verdade que por vezes a paixão nos pode ter levado, a nós próprios, a cometer erros, eu creio que é sempre nobre confessá-lo.

Não é nenhuma vergonha afirmar nesta hora de sacrifícios mútuos, em que arriscamos tudo, porque não confessá-lo, até a própria unidade do Partido os nacionalistas comprometem procurando ansiosamente a verdade.

Cada um com o seu pensamento próprio, pautando as suas atitudes por determinadas ideas, mas obedecendo todos ao vivo desejo de bem servir o País, diferindo na fórmula: ou deixar subsistir êste Govêrno até que êle demonstre claramente que dentro da sua estrutura nada de útil pode produzir para o País, ou, pelo contrário, se se deve derrubá-lo já, são modos de ver diferentes de encarar o assunto, mas qualquer deles tem única e simplesmente por mim bem servir o seu País.

Se não procedêssemos assim, ninguém nos acreditaria, seria um acto de loucura e não seriamos tomados a sério.

Não. Nenhum de nós pensou, nem sequer um momento, através das complicações da vida política portuguesa, nos seus interêsses pessoais ou nos interêsses do seu partido: pensamos todos, acima de tudo, nos interêsses superiores da República e, ainda mais, nos interêsses superiores do País.

Pregunto: é vergonha, porventura, para um partido, cansado de dar Governos, enfraquecido por lutas fratricidas que só derivam da continuação dêsse mesmo partido no Poder, tendo recorrido a todas as soluções próprias, tendo ensaiado todas as combinações políticas que podia ensaiar, será vergonha confessar-se esgotado até pelos sacrifícios que, por-