O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 16 e 17 de Julho de 1925 53

ano de 1917 foi um bárbaro ano de ódios nos republicanos.

E então o mesmo fenómeno do dispersão das fôrças republicanas produziu exactamente a mesma cousa; a instalação de uma ditadura, a qual, pelos actos que praticou e perante a iminência do desaparecimento da República com a tentativa restauracionista da monarquia no norte, fez acordar, porque existia, latente, o velho espírito republicano de Portugal e tornar intangível a mesma República.

Pessoas que viveram a madrugada de Lisboa, em que o povo acordou vendo ondular junto de uma das antenas do forte de Monsanto a bandeira azul e branca, sentiram que alguma cousa de estranho se passava.

Ainda há dias um velho companheiro de lutas, um dos propagandistas mais distintos do ideal militarista, me dizia que Portugal inteiro sentira que alguma cousa de emoção, profunda, afectiva e viva se passava em toda a cidade de Lisboa e sentira que deviam ter sido assim aquelas horas de 1790, em que a palavra de Desmoulins foi por tal forma persuasiva e tamanha que pôde fazer marchar uma grande multidão, que marcou para sempre uma vida nova na sociedade francesa e em todas as sociedades da Europa.

Vivendo essas horas abençoadas, pudemos verificar que alguma cousa havia escapado aos dirigentes, que êstes não haviam compreendido nem sentido sequer, porque, se o tivessem compreendido, haviam de ter prestado a sua homenagem a essa magnífica fôrça viva que o risco iminente do desaparecimento da República pôs em vivos traços diante de todos nós os que assistimos ao desfile de 2:000 civis de todas as categorias sociais, pelas ruas de Lisboa, realizando assim aquela bela obra da carbonária portuguesa.

Os que assistiram comovidos e emocionados a êsse desfile de patriotas não poderão esquecer o que isso representou de idealismo, de energia e de emoção, que todos êsses fantásticos talentos que para aí andam a correr o País não souberam sentir.

Os homens que entraram lá em cima em Monsanto respeitaram tudo quanto ali encontraram.

Os homens que entraram nas prisões de Monsanto, onde se encontravam algumas criaturas conservando ainda frescas as vergastadas de cavalo marinho com que os polícias e a guarda republicana de Sidónio Pais torturavam os republicanos, não levantaram um dedo sequer sôbre os vencidos da causa oposta.

Na hora da vitoriei o povo republicano soube dar aos dirigentes a lição que já dera em 5 de Outubro.

A tradição do povo não é odienta; é de respeito pelos vencidos.

Tive ocasião de ver, Sr. Presidente, que o povo, após Monsanto, dava aos dirigentes da República a mesma lição que deu no dia glorioso do 5 do Outubro, quando descalço e faminto, de espingarda ao ombro, guardava os Bancos, que mais tardo haviam de servir para o explorar.

Sr. Presidente: a análise a que acabo do proceder mostra que o fenómeno que sempre deu origem às crises da República foi a dispersão dos republicanos. Nunca nem em 1914 o 1917, essa dispersão foi tam grande como agora.

E estou, portanto, dentro da boa lógica e dos bons processos de raciocinar afirmando que, se existe o mesmo fenómeno, nós vamos ter uma terceira crise bom mais grave do que as anteriores.

E, se assim é, qual é o dever de todos os republicanos?

Os republicanos que o são, e não aqueles que imaginam sê-lo, pois ser republicano não é quem quere, devem nesta hora parar nas contendas que os trazem divididos, pondo a República acima das suas míseras tempestades de alma.

Ainda no outro dia, Sr. Presidente, quando da última revolução, ali para os lados de Campolide, fizeram-se buscas em casas de pessoas populares do nosso partido, que não tinham para essa gente outro delito senão o de pertencerem ao nosso partido.

Quere dizer: ainda a revolução estava destinada a um fracasso e já os sicários começavam a saciar os seus ódios, procurando arrastar-nos para um período tam grave como os anteriores.

Repito, se efectivamente, como eu demonstrei, há indícios de que se vai dar uma terceira crise da República, mais grave do que as anteriores, o dever dos republicanos é porem a República acima