O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

56 Diário da Câmara dos Deputados

Entretanto, desde que vim para um partido em que mo sinto honrado, a minha obrigação ora votar a questão do confiança.

E assim que devera proceder os republicanos que são do facto republicanos. E assim que devem proceder os parlamentares que são de facto parlamentares.

Ver um homem tam carregado do distinções, tam altamente colocado, a desempenhar papéis desta natureza, que deprimem, ofendem, vexam e magoam quási todos os seus camaradas desta Câmara e atingem também os Parlamentares independentes, o Grupo da Acção Republicana; ver um homem que tem responsabilidades de orientação parlamentar, colaborar assim neste abastardamento de costumes e direitos parlamentares, rebaixa a sensibilidade e é alguma cousa que, mesmo nesta hora da madrugada, depois de uma noite de vigília, eu não posso referir sem me indignar profundamente e revoltar todas as minhas fibras.

Sr. Presidente: a análise demorada que tenho sido obrigado a fazer leva-mo nesta altura a uma ordem de considerações sôbre êste documento, que é um descrédito para o partido que o enviou.

Sr. Presidente: dizia eu há pouco, ao referir-me à terceira crise da República, que julgo prestes, que julgo esta hora mais grave e a crise mais funda do que nenhuma outra, e poderá ser uma crise desastrosa para a República.

Ela poderá até atingir Portugal e, a propósito disto, julgo-me na obrigação de tomar mais umas largas horas a Câmara.

Todas as pessoas que conhecem as consequências do Tratado de Versailles sabem como temos vivido de conferência em conferência, e apenas com algum bem devido à Sociedade da Liga das Nações, que foi instituída pela primeira vez em Portugal no tempo de D. João VI, que então se encontrava no Brasil.

Todos sabem, dizia eu, encerrando êste parêntesis de reivindicações portuguesas, que, depois da constituição da Liga das Nações, depois das sucessivas e constantes conferências internacionais acêrca do problema da paz, o que pode dizer-se, sem excesso nem audácia, é que elas não têm sido senão sucessivamente adiadas.

Um dos aspectos mais interessantes para Portugal do problema da paz veia a ser o de que a Alemanha, que foi um país colonial, e que por motivo do tratado a que já me referi foi privada de todas as suas colónias, não desistiu, não desiste, pode dizer-se, não desistirá do voltar a ser um grande país colonial.

Logo em 1918, fresca ainda a guerra, um dos mais formidáveis colossos da vida económica alemã, o Sr. Hugo Simões, fundava, era Hamburgo a Liga Pró-Colónias.

A obra do Hugo Stinnes ora secundada na política por um Partido Nacionalista, que tem tamanha fôrça na Alemanha que acaba de vencer, numa das mais vivas e renhidas eleições, a eleição para a Presidência da República.

Registemos, portanto, na nossa memória êste facto: a Alemanha precisa do ter colónias.

Acontece que, no mesmo tempo que êste desejo da Alemanha se afirma, em várias imprensas do vários países começa a desenvolver-se uma emenda campanha contra o domínio colonial português, ou melhor, contra a posso do Portugal do seu vasto domínio ultramarino.

Reeditara-se, a propósito, na imprensa internacional, principalmente na imprensa italiana, os velhos argumentos que contestara a Portugal o direito de continuar do posse do sou domínio colonial.

Diz-se que Portugal é um País pequeno, o que, não tendo população bastante densa para o seu território metropolitano, como há-de ele povoar os terrenos extensos dos seus domínios africanos?

Diz-se que Portugal é uma Nação inorgânica, agitada e incapaz, de organizar as suas actividades.

A mim, que conheço um pouco da história dos agentes perturbadores, e que sei como êles funcionaram e funcionam hoje por toda a parte, não repugna acreditar que agentes ocultos haja em Portugal.

Sr. Presidente: além dêstes dois argumentos, o da nossa incapacidade social e o da nossa incapacidade nacional, há o de que as necessidades da humanidade se acentuam em todos os pontos do mundo, e que, portanto, não há razão, nem direito, do ninguém se manter fora da situação da actividade económica mundial.