O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

64 Diário da Câmara dos Deputados

exercer a regência, como rainha, durante a menoridade de seu filho. Se V. Exa. se lembrar dessa série de episódios políticos que vieram a ter o seu epílogo trágico no célebre encontro de Alfarrobeira, se V. Exa. se lembrar do período de perturbação que correspondeu à regência durante a menoridade de D. Afonso V, verificará que êsse período tem todas as características de um período de dissolução social.

Por outro lado, eu tomo como período de desenvolvimento social aquele em que se formaram as chamadas magistraturas populares, surgindo a Casa dos 24 e desenvolvendo-se bastante as actividades municipais.

Ora acontece que é precisamente no reinado de D, Afonso V que começa a decadência das magistraturas populares portuguesas. Para mim êsse facto, a que D. João II, que bem merece o cognome de Príncipe Perfeito e que eu considero, apesar de todas as opiniões em contrário, o melhor Rói de Portugal, pôs um entravo, com o seu prodigioso talento, realizando a concentração do poder real, substituindo a magistratura popular, que falhava, pelo magistratura central,

O Poder centralizado, não sendo de acordo com a mentalidade portuguesa, não sendo de acordo com a psicologia portuguesa, apenas desaparecido o formidável talento de D. João II, deixa de ter eficácia precisamente no reinado de D. Manuel, O Venturoso, porque só ao destino e não às qualidades, nem ao próprio nascimento, deve o lugar que ocupou, embora D. Manuel continue a desenvolver o esfôrço admirável dos portugueses que desde tempos recuados se vinha desenvolvendo num plano perfeitamente definido, a ponto que encontramos desde Afonso IV a reivindicação de certo número de cousas portuguesas fora de Portugal, como seja a reivindicação das Canárias.

Mas, como ia dizendo, a observação que me podiam fazer é que é opinião corrente que a decadência portuguesa começou em D. Afonso V.

Desde Afonso V até hoje mais essa decadência se acentuou dentro dos pontos de vista intelectual, moral, scientífico e religioso, emfim, dentro de todas as manifestações de actividade.

As manifestações de actividade, tam repetidas e conservadas através de tam extenso período de tempo, as manifestações de renovação portuguesa, são perfeitamente uma utopia que não tem valor scientifico.

Esta observação, que a mim próprio formulo ao meditar neste problema, não tem valor nenhum, como demonstrarei.

Em todas as gerações portuguesas, desde a chamada era de decadência até hoje, houve um núcleo de povo tam poderoso que afirmou a sua vitalidade pela extensão no mundo.

Se V. Exa. e a Câmara se quiserem dar ao incómodo de estudar o assunto, verão o que se tem passado nos diversos países a que acabo de me referir,

Se V. Exas. se quiserem dar ao incómodo, repito, de estudar o assunto, terão ocasião de verificar que os povos dêstes países, muito principalmente o inglês, o alemão e o francês, estão muito mais adestrados e preparados, muitos mais aptos, debaixo de todos os pontos de vista, do que os outros dos vários países do mundo.

Esta é que é uma verdade, o assim ou devo dizer que Portugal tem do encarar o assunto também debaixo dêsse ponto de vista.

Procedendo assim, isso será, a meu ver, de uma grande conveniência para o desenvolvimento não se da nossa indústria, como dó nosso comércio.

A vitalidade dêste povo está bem atestada, a nossa raça não esmorece; lá falei na palavra raça que não gosto de empregar. Somos um povo que se tem sujeitado a provas duríssimas e bem se verifica isso na nova Inglaterra, onde os nossos pescadores levantaram habitações e tiraram o máximo proveito da terra, mostrando que com energia e perseverança se pode fazer uma cultura de terra safara.

Os portugueses acostumaram-se ao trabalho e com tal afinco ô acerto fizeram a cultura da terra, que até então nada produzia e com tanta intensidade que lá chegavam a dizer, numa simples sementeira de batata, que para as batatas crescerem era preciso falar lhes português.

Esta anedota define tudo.

Precisamente nesse momento a raça realizava o facto mais formidável da sua expansão; o povo efectuava o acto mais