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Sessão de 16 e 17 de Julho de 1925 69

Sou por consequência uma pessoa em condições de bem observar o aparecimento dêsses sentimentos, da sua percussão e a sua acção, sentimentos que eu comecei por observar, que estudei para os combater e que acabei por eliminar de mim.

Sr. Presidente: neste momento o sentimento mais comum em Portugal, infelizmente mais usado, o sentimento mais pró forma aparecendo em toda a parte sob os aspectos mais variados, o sentimento dominante na vida portuguesa, é realmente o da inveja, e, porque a inveja se torna um acto social e uma regra de conduta, sucede que, quando alguém possa ter qualidades físicas e intelectuais um pouco mais valiosas do que qualquer outro, vem a inveja, resultando disso uma cousa que se chama intriga, maledicência e malquerença, e portanto o invejoso não pode ver ninguém mover-se diante de si.

Sr. Presidente: se V. Exa. quiser acompanhar na altura em que me encontro no meu raciocínio, verificará com a máxima facilidade e máximo rigor lógico que efectivamente o que predomina entre nós é a inveja.

Realmente as pessoas aptas e capazes, quando se vêem envolvidas nestas intrigas, quando assistem ao que só está vendo, à actividade política transformada numa fermentação de defeitos dos mais repugnantes, realmente os homens válidos que assim se vêem envolvidos numa atmosfera desta ordem, só têm um caminho a seguir: o de emigrar, para se ver, como eu vi, vários operários, quási descalços, orgulharem-se de ter no sou país pessoas tam ricas como Rockefeller.

Por aqui se explica a razão por que a raça definha. E porque em cada emigração emigra a parte útil. E por aqui verifica, V. Exa., Sr. Presidente, que apesar de eu me encontrar ainda longe do termo das minhas considerações, eu não tenho produzido uma obra inútil para o País, porque tenho estado a constatar um certo número de sintomas, por um processo que não é meu, e que me vieram à imaginação por estarem ligados na minha preparação anterior, ao encarar o tristíssimo espectáculo mental que me dá êste papel.

Esta pequenina digressão mostra bem que um exame atento da sociedade portuguesa nos permite, com facilidade, chegar ao sentimento principal que num diagnóstico bem deduzido pode ser apreciada como a causa digressiva.

Mas se realmente eu estive aqui a desenvolver uma série de raciocínios, se realmente eu posso ter por válida a conclusão a que cheguei, vamos a ver como ela nos pode servir para procurar o caminho da cura, para encontrar o remédio, para verificar se, dentro de Portugal, com a gente portuguesa, dentro de um círculo vicioso que consiste em não se educarem os portugueses, é possível operar uma reacção salvadora e achar as soluções adequadas às energias do povo português.

O próprio raciocínio que eu há pouco fiz, para demonstrar a existência, em cada geração de Portugal, desde os últimos três séculos, do magníficas qualidade para o desenvolvimento progressivo e eficaz do nosso povo, vai também agora servir-me para dizer que na verdade é possível romper o círculo vicioso a que me referi e fazer uma obra de transformação da sociedade portuguesa, uma obra susceptível de nos levar à realização daquele futuro que há pouco pretendi mais ou menos definir, quando expus a teoria da renovação portuguesa.

E se existe uma minoria criadora e activa, eu posso contar com ela para a instalação em Portugal de um certo número de meios transformadores.

Quais são êsses meios transformadores?

Só se pode romper o círculo vicioso transformando o nosso sistema escolar.

Efectivamente a educação do nosso tempo, e mesmo a instrução nos usos e intuitos, é muito diferente daquela que se está dando em Portugal nos nossos dias.

Educar é preparar o indivíduo para o desenvolvimento completo das suas faculdades físicas, intelectuais, morais e sociais, e sobretudo para continuar a educar-se depois da idade escolar.

A essência da educação é a energia viva, procurando oportunidade para o exercício.

Por consequência, a educação é alguma cousa de muito diferente do que se imagina ainda hoje na nossa torra, e principalmente do que se imaginava há 10, 15 ou 20 anos.

Nessa data imaginava-se que instruir