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Sessão de 16 e 17 de Julho de 1925 73

de que, boa ou má, a minha palavra e a minha inteligência, aliadas às das outras pessoas, bem intencionadas como eu, podiam produzir alguma cousa de útil para o País e para o regime que defendo.

Fazendo, porém, o balanço dos meus dez anos de actividade parlamentar, noto que nem sequer fiz uma cousa de que todos me acusam: não redigi a minha teso de curso; ao passo que, no período anterior a êstes dez anos, fiz a minha carreira, sem auxílio de ninguém.

Há pessoas que não conseguiram concluir um curso de escola elementar, o que mo criticam asperamente por eu ainda não ter feito a minha tese do curso de medicina, como se ela valesse o largo trabalho de cinco anos.

E, no emtanto, é das cousas que mais me têm divertido neste País, observar a indignação de várias pessoas, por verem que foi Ministro da República um homem que, apesar de ter um curso superior completo, ainda não defendeu tese.

Há também uma outra cousa que me faz reconhecer que êstes dez anos de actividade política foram de pura perda para mim, e não produziram resultado apreciável, nem para o País, nem para a República, e, por isso, o meu dever é não voltar mais ao Parlamento.

Não, Sr. Presidente!

Ficamos assim entendidos.

Há Deputados que o deixam de ser por inadaptação moral ou jntelectual, mas há muitos, aos cardumes, que querem ser Deputados para fazer aquilo que eu nunca fiz: transformar o campo da actividade parlamentar num degrau para treparem e obterem apenas a satisfação das suas comodidades pessoais.

Eu saio, Sr. Presidente, da actividade parlamentar sem nenhum desejo de cá voltar; mas o destino dispôs as cousas de maneira que eu saio em termos tais que, directamente, êste exercício, a que tenho consagrado a maior parte da minha vida, não mo serviu de utilidade directa, não me levou a procurar a satisfação de quaisquer interêsses inconfessáveis.

Sou um homem de trabalho, e espero, por isso, que, dentro de poucos meses, de alguns anos talvez aqueles que mais me invejam as situações, que me multiplicam os cargos e rendimentos, tenham ocasião de ver bem que o homem que desde há muito trabalha sem desfalecer, o homem que fala neste instante a V. Exas., sempre contou só comsigo, e que pode, adentro de Portugal ou fora dele/ mostrar que é capaz de por si só se bastar e aos seus.

Que os meus são ainda, felizmente, pequeninos e, emquanto não forem pervertidos pela corrupção do meio em que vivemos, constituem uma pequena sociedade, que me tonifica nas horas em que me assaltam os desalentos que daqui levo.

O contacto no meu lar com os meus filhos e minha mulher faz-me com efeito esquecer admiravelmente tudo o que se passa fora da minha casa.

E amanheço quási tam alegre como o sol, contente e feliz e disposto novamente a trabalhar.

Tenho a impressão que, adentro da minha pequena e modesta casa, toda pintadinha e alegre, que a inveja de alguns diz ser um palacete, vivo mais feliz que todos êsses homens que tanto se digladiam, que mutuamente se devoram, invejando situações uns aos outros e pretendendo aniquilar-se constantemente.

Sr. Presidente: não queria, pela muita consideração que tenho por V. Exa., ser o causador do incómodo que V. Exa. tem estado a sentir, bem como todos aqueles que por dever de profissão aqui estão, os Srs. jornalistas, não faço excepção a nenhum, apesar de alguns deles, por várias vezes, terem sido injustos para mim.

Dirá V. Exa., dirá a Câmara, dirão todos os espectadores desta scena que sou obrigado a representar: e o que terá aquele homem que dizer, passadas tantas horas depois do início da sua exposição?

Preguntarão:

Porventura a sua voz estará já rouca?

Porventura o seu raciocínio sairá já perturbado e incompleto?

Porventura a própria amnésia, derivada da fadiga, trocará os termos da frase, tornando inacessível toda a propriedade de expressão e fazendo do seu discurso um tecido de incoerência, uma manta de retalhos, de frases sem nexo, mais ou menos cheias de sons, sonoras, mas sem corresponder a um pensamento, a uma aspiração, a um desejo ou a uma vontade?

Tive necessidade de enumerar os di-