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Sessão de 16 e 17 de Julho de 1925 75

É mesmo por essa prática que se faz demonstração diária da não compreensão e do não cumprimento das responsabilidades daqueles que a si próprios se propõem como dirigentes ou salvadores duma pátria; essa incompreensão das responsabilidades é uma prova diária da incapacidade que a si mesmo passam.

Quer queiram, quer não, os que estão lá fora, e verificam o que aqui se passa, só podem usar para estas pessoas duas espécies de processos que não enriquecem organismos de acção: a conduta para mais fàcilmente conseguirem o lugar querido do seu coração que lhes abra caminho à satisfação de certos e ignorados fins particulares que se vêm a descobrir fàcilmente, ou então a deformação, o próprio exagero, o descrédito, o próprio exagero do vício praticado, que aparece na boca dos adversários por maneira a que uma grande parte deles não pode ter nos homens que se preparam para o dirigir a confiança que é mester.

Estas palavras, claras, simples e creio que bem lúcidas, traduzem um breviário de comportamento que eu não quero impor a quem quer que seja.

Cada um tem uma cabeça para pensar, coração para sentir e músculos para agir.

Cada um é uma autonomia viva. autónoma, conduzindo-se por onde quere e como quere.

Eu sei que no livro sagrado da religião que desde tempos imemoriais foi aquele porque batalharam todos os portugueses em todos os quadrantes, eu sei que no famigerado Alcorão há um preceito que, sendo exagerado, no emtanto corresponde à realidade dos factos e traduz a verdade de muitas situações humanas.

Diz-se num versículo dêsse livro, que motivou sorrisos a pessoas que o não conhecem, o seguinte:

"É mais fácil uma montanha mudar de sítio, do que um homem de disposição".

Essa passagem já aqui a citei uma vez quando ainda era vivo o malogrado António Granjo. Encontravamos-nos numa situação política semelhante, creio que era um Govêrno da presidência do Sr. António Maria da Silva.

Êsse Govêrno apresentava-se ao Parlamento com uma escassa maioria parlamentar.

Se não me trai a memória, era precisamente uma situação análoga àquela em que hoje nos encontramos, e eu recordo-me de ter então citado aquele versículo a que há pouco me referi: "É mais fácil uma montanha mudar de sítio do que um homem de disposição".

Do facto, quando um homem se dispõe decididamente a praticar um acto, mesmo que seja destrutivo e prejudicial, uma como que auto-hipnose ou cegueira impedem-no de avaliar as consequências que podem resultar dêsse acto, do modo que êle caminha não como um homem, mas como uma fôrça cega e inflexível.

Êste estado de obcecação, êste estado de deminuição de consciência, êste estado de impulso cego e indominável, é mais frequente nas sociedades de deminuta cultura média.

Na frase feliz de um escritor, a cultora é o poder correctivo de todos os homens públicos, o que se pode traduzir por a frase "a ignorância é muito atrevida".

Por isso, num país de reduzida cultora média como o nosso, são mais frequentes êsses estados de inconsciência ou de impulso cego a que há pouco me referi, tanto nos indivíduos como nos grupos, e é fácil por isso encontrarmo-nos dia à dia no Parlamento perante a repetição de tais fenómenos.

Por mais que os homens que tam tomado parte neles se tenham apercebido, em rápidos momentos de reflexão, dos prejuízos que pudesse acarretar o seu procedimento, êsses fenómenos continuam e são uma realidade com que eu tenho deparado muitas vozes, não só aqui mas também com frequência por aí fora, em todas as espécies de actividade.

Infelizmente a depressão ou inferioridade da influência do meio traduz-se também por uma outra atitude psicológica, que é por igual prejudicial para o bom funcionamento do uma sociedade. Quero referir-me à crendice, a facilidade com que num meio assim constituído se acreditam as mais inverosímeis fantasias.

Obcecação eis a característica de um meio como o nosso, onde, por consequência, maior responsabilidade têm os parlamentares, pois sabendo-se num país onde a obcecação é frequente, onde o estado de crendice é elevado, tinham obrigação de aperceber-se disso mais fàcilmente do que em qualquer outra parte.