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80 Diário da Câmara dos Deputados

os olhos, tudo parecem olvidar, desde os seus deveres para com aqueles que os elegeram até aos deveres para consigo próprios, em faço dos altos interêsses nacionais.

Porém, seja como fôr, o País irá notando a maneira como se procura derrubar êste Govêrno e saberá fazer justiça a todos.

Todos sabem que êste Govêrno se encontra no Poder por a Câmara dos Deputados ter negado o seu voto de aprovação a uma proposta de 6 duodécimos que o Sr. Vitorino Guimarães apresentara; assim, a Câmara, negando-lhe a aprovação dessa proposta e concedendo apenas um duodécimo, contraiu o dever d6 não encerrar os seus trabalhos sem ter analisado devidamente as contas do Estado. Vimos, todavia, surgir o Govêrno do Sr. António Maria da Silva a fazer a declaração peremptória ao Parlamento de que desejava a discussão e aprovação do Orçamento Geral do Estado. E agora que as oposições não conseguiram, depois de todos os esfôrços, derrubar o Govêrno no próprio dia da sua apresentação, apesar de parlamentares das mais heterogéneas correntes políticas se terem retinido para o derrubar nesse dia, facto êste que julgo, nada poder justificar, pretendem derribá-lo por outra forma.

Alguma autoridade tenho para censurar os que assim procedem, porque eu nunca votei moções de desconfiança a qualquer Govêrno, de cara a cara como se costuma dizer.

Nem como independente nem como filiado no Partido Republicano Português, jamais dei o meu voto a uma moção de desconfiança no próprio dia em que um Govêrno se apresenta à Câmara. Espero sempre os seus actos para nortear o meu procedimento.

Faltava à verdade - e o ser leal e desassombrado é talvez o único título do meu orgulho - se não dissesse que se têm sentado por vezes naquelas cadeiras homens que, pelo seu passado, me levaram à convicção de que nada de útil poderiam trazer à Pátria e à República. Mas eu, por princípio, espero sempre os seus actos.

A mesma atitude de sempre a mim próprio impus no dia da apresentação dêste Govêrno à Câmara. Infelizmente muitos parlamentares não quiseram segui-la, e não quiseram, uns porque os move a idea de que, caído êste Govêrno, algumas probabilidades têm de ser Ministros; outros pela saudade que têm de voltar àquelas cadeiras que julgam pessimamente ocupadas sempre que S. Exa. lis se não encontrem lá; outros ainda porque seguem a teoria do "quanto pior melhor", não tendo interêsse algum em que a República se nobilite bem servindo o País. Êstes últimos desejariam até ver os Governos, se possível fôsse, substituírem-se naquelas cadeiras dia a dia, hora a hora, minuto a minuto. Refiro-me, Sr. Presidente, aos Srs. Deputados monárquicos.

Êles muito pouco de útil têm realizado dentro desta Câmara, muito pouco tem. servido o País, mas agora mostram a maior persistência, a maior tenacidade, esquecendo os seus interêsses particulares para virem derribar mais um Govêrno da República, acto êste que vem a ser mais uma facada no prestígio da República e do próprio Parlamento, pois que; se encararmos êste caso a sério, veremos que nem, sequer, um pretexto hábil se soube invocar por parte dos homens que se aliaram para derribar o Govêrno.

Lá fora os homens que trabalham para dignificar a Nação devem olhar para a atitude dêstes parlamentares com um grande ar de desdém. A sua ambição, a sua sofreguidão de mando, obceca-lhes inteiramente as inteligências, para sem motivo, repito, derrubarem a actual situação política.

Sendo assim, não tenho dúvida em afirmar que êsses Deputados me obrigam a dizer que não acredito na sinceridade das suas atitudes, como não acredito que os tivesse movido um interêsse de ordem nacional, tanto mais que muitos deles não querem saber dos interêsses nacionais emquanto o País fôr governado pela República.

É conhecida, efectivamente, a velha fórmula de "quanto pior, melhor", mas o que é lamentável, o que arrepia a minha sinceridade de republicano, e republicano que não anda aqui para receber benesses do Estado, é que vejamos acorrentadas a essa fórmula pessoas que, por militarem em ,partidos da República, tinham obrigação de se conduzirem de outra maneira.

Eu sinto que estão todos muito fatiga-