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Sessão de 16 e 17 de Julho de 1925 81

dos, e que os meus ilustres colegas que passaram, como eu, uma noite sem dormir, nem sequer querem dar atenção às verdades que eu estou dizendo.

Porém, eu poderia passar duas noites sem dormir, que me sentiria ainda com fôrça e energia suficientes para vir proclamar à Câmara estas verdades, considerando que prestava assim um bom serviço à República.

Está, todavia, embotada a sinceridade de alguns que me ouvem, porque aliás, naturalmente, se o desejassem, exerceriam uma acção sôbre as suas próprias pessoas, e conseguiriam assim ouvir o que eu tenho dito.

Um dia virá, não longe, que nós havemos de constatar, infelizmente para a República, quão acertadas têm sido as minhas considerações, condenando aqueles que pretendem derribar o Govêrno.

E, mais tarde, também, o País, que deseja que nos consagremos a um trabalho útil e que cumpramos os deveres para que nos elegeram os nossos eleitores - os humildes filhos do povo, que aqui nos puseram para bem servirmos a República - há-de verificar a razão que eu tinha de afirmar que é um crime provocar mais uma crise política, precisamente quando êsse Govêrno, em oito dias apenas, conseguiu fazer mais do que todos os Governos que ali se sentaram de Janeiro para cá.

Em oito dias se aprovaram já dois orçamentos, e os outros Governos, que tem feito a nossa felicidade e a do povo, em perto de oito meses nem sequer conseguiram iniciar a sua discussão.

E esta a razão, Sr. Presidente, por que eu insisto no meu ponto de vista, de que a atitude que levou as oposições a não quererem a manutenção do actual Govêrno nas cadeiras do Poder é uma prova, não só da sua ambição de mando, mas também da sofreguidão do Poder, pelo receio que têm de que, não estando lá os seus amigos, as suas candidaturas possam sofrer nas próximas eleições.

Mas, Sr. Presidente, todos os interêsses do País se esquecem. Êste Govêrno tem no seu seio alguns dos homens que mais contribuíram para que a República fôsse um facto.

Se o regime não tem feito aquilo que poderia fazer, a culpa é daqueles que têm tomado atitudes idênticas à da que as oposições parlamentares neste momento estão assumindo.

Quem nos últimos dias se tiver dado ao trabalho de ler alguns jornais, terá visto que o que lá se encontra escrito não corresponde à verdade dos factos.

Estão errados os números dos votantes e aparecem a votar pessoas que se encontram no estrangeiro. Chega-se ao ponto de pôr ao lado do Govêrno indivíduos que estão contra o Govêrno. Até registam votos de Ministros do actual Govêrno que ainda não vieram a esta casa do Parlamento.

Encontramos emfim, através das crónicas parlamentares do alguns jornais, uma longa série de inexactidões, de deturpações de factos, que êles referem, não inconscientemente, mas no intuito de desnortear, de iludir, a opinião pública.

Dizia um grande escritor francês que quanto mais certas pessoas procuram encobrir a verdade, mais a descobrem.

Através da nossa vida política há de suceder exactamente a mesma cousa.

Os processos honestos, os processos dos competentes, hão de infalivelmente acabar por triunfar.

Elias Garcia, êsse grande democrata, êsse grande apóstolo da República, quando dava as suas lições, quando fazia propaganda, quando fazia as suas conferências, em que seguia sempre um caminho honesto, e era abordado por certos elementos que lhe aconselhavam o riso de processos mais rápidos, mais eficazes, como o suborno do exército e da armada - processos que ultimamente tanto se têm pôsto em prática - negava-se a seguir êsses processos e continuava a trilhar honestamente o caminho que mais se harmonizava com o seu carácter.

Não tenho dúvida em declarar que sinto entre mim e alguns republicanos um profundo abismo que não vejo maneira de transpor, a não ser numa hora de perigo para a República.

Mas nós vamos mal por êste caminho de derrubar Governos! Em 15 anos de República, salvo êrro, é êste o 42.° Govêrno que se deita abaixo; e - cousa curiosa! - os Governos que têm vivido menos tempo são os que no seu seio albergam maior número de republicanos. Estive esta manhã fazendo um pequena