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76 Diário da Câmara dos Deputados

O estado de crendice média faz com que as superstições primem sôbre as opiniões, e em vez de termos uma sociedade culta que elabore uma opinião constante sôbre os acontecimentos e que procure determiná-los numa certa orientação, como do via ser dentro de uma democracia, temos grupos obcecados, preparados para acreditarem todas as infâmias, todas as fantasias maldosas.

O Parlamento tornou-se responsável pela criação dêsse estado patológico dentro da vida da sociedade,

Sr. Presidentes êste aspecto das considerações que tenho de fazer aqui hoje, a propósito da moção mandada para a Mesa pelo Sr. Pedro Pita, é porventura dos mais interessantes, embora seja exactamente o que menos interêsse provocará nas pessoas que me ouvem. Menos susceptível é, portanto, de ser assimilado de maneira a converter-se naquele número regras de conduta que para bem de Portugal era necessário introduzir na actividade parlamentar.

Mas o homem do crenças e de ideas não deve procurar a utilidade imediata das regras de conduta que defende e preconiza. Tia num dos mais notáveis pensadores franceses, porventura dos do mais variada cultura e dos de maior elegância intelectual, morto há pouco tempo, Alfredo Foullet, uma passagem acerca das marchas das sugestões na vida social.

Diz êsse brilhantíssimo literato o filósofo que nas sociedades nada se perde; tudo se transforma.

Efectivamente estalei, que parece uma assimilação da lei de Lavoisier, é realmente verdadeira.

É certo que se propagam numa sociedade como a nossa com a maior facilidade os estados doentios, mas o que é certo também é, que nem por isso deixam de se propagar os outros, e nem por isso também êles deixam de ficar consignados nas notas esquecidas dos arquivos a afirmar uma atitude.

E quando essas palavras são ditas com a liberdade de consciência e audácia de crítica e com a compreensão das vantagens imediatas, essas palavras, como as que tenho proferido no decurso desta longa suposição, nunca morrem.

Um dia surgirá nesta terra um homem que estude êste momento político que, mais sereno, poderá verificar que tenho razão neste lance.

Sendo assim, como estou certo do que será, não são perdidas nem para o País nem para a República estas minhas palavras.

E, Sr. Presidente, que esta noite de incómodo para muitos fica na recordação de todos a lembrar-lhes que êste homem que vai desaparecer desta actividade na fôrça da vida, êste homem que falava com tamanha liberdade e isenção, foi um homem que aqui disse, numa larga exposição, as palavras previdentes e necessárias, que os portugueses deviam unir-se uns aos outros numa hora grave, fazendo um estímulo o eliminação de tantos vícios e prejuízos como aqueles que dificultam e embaraçam o progresso da sociedade portuguesa.

Sr. Presidente: quero repetir, mesmo correndo o risco de enfastiar V. Exa. e a Câmara, que a minha atitude durante êste largo debate que tive de aqui sustentar é única e simplesmente pela convicção em que estou de que é assim que me devo impor, fazendo isto como um dever republicano.

Daqui a pouco V. Exas. vão proceder como procederiam se a minha intervenção não tivesse lugar. Conto com isso, esperando que assim seja. Conheço-o muito bem, o bastante para não ter sequer um rápido segundo de ilusão de que viva de alguma cousa a actividade republicana e patriótica que aqui tenho estado a desenvolver, cumprindo a minha obrigação de parlamentar.

Mas, repito, a frase que há pouco proferi do brilhantíssimo pensador que foi Alfredo Foullet, em que dizia que nas sociedades nada se perde, antes pelo contrário, tudo se propaga. E, portanto, assim o que aqui tenho estado a fazer, e representando, como represento, uma atitude moral, ela representa também um protesto indignado contra aquele estratagema que se pretende pôr em prática e que não é de maneira nenhuma como uma cousa que desapareça amanhã, daqui a um? mês ou daqui a anos: é uma cousa que mais tarde há-de levar muita gente a reflectir.

Sr. Presidente: acontece com as sociedades o mesmo que acontece com os indivíduos.