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72 Diário da Câmara dos Deputados

circunstância de não estar presente A ou B, a fim de se conseguir uma votação que satisfizesse os interêsses é os apetites de um grupo de Deputados e não a expressão real da Câmara!

Eu, que sou um homem que me prezo de ser republicano, há muito tempo que ando nesta casa do Parlamento numa atitude desalentada; há muito tempo que muitos correligionários meus logram exercer a sua actividade por termos que me desgostam, não como homem, nem como político, mas como português. Efectivamente, esta assemblea, que devia ser, como disso há poucos um instrumento de pacificação, torna-se por vezes tam contraditória com a sua própria essência, que estas carteiras chegam a transformar-se em tribunas de agitação revolucionária.

E veja V. Exa. como é que eu me encontro aqui no Parlamento: na situação em que se encontram os pobres homens que passam a vida nos teatros, mas nos bastidores, conhecendo, por isso, todos os mecanismos e todos os cordelinhos!

Como é que ou posso iludir me e acreditar na capacidade criadora dêstes homens para fazerem urna obra de transformação da vida portuguesa?

Não; não posso de maneira nenhuma acreditar nestas armas de retórica, nas largas gesticulações; não posso acreditar que essa moção do Sr. Pedro Pita tivesse o intuito de bem servir a República, não posso acreditar pelas várias razões que tive ocasião de expor ao longo de tam longas horas.

Não temos nós, que queremos continuar a ser republicanos, na verdade, de impedir que prossiga esta bambochata?

É preciso arriscar a vida ou a saúde?

Arrisca-se, porque queremos exprimir o "querer viver" num país que há largos séculos tem mostrado querer fazê-lo, só não o realizando por falta de dirigentes que reconheçam as suas tendências ou capacidades.

Os que tiveram a bondade de mo escutar verificaram decerto que não tenho nenhum propósito pessoal imediato, nem sequer o de fornecer ao Govêrno meios devida, que eu sei não poderem ser fornecidos pelo processo que estou empregando.

Não sou nenhuma pessoa extraordinariamente inteligente, mas tenho, pelo menos, o bom senso necessário para verificar que, se o Govêrno para viver necessitasse do esfôrço extraordinário que tenho vindo a realizar, era um Govêrno virtualmente morto, porque detrás do recurso que ou havia usado todo o País verificava a sua deficiência parlamentar.

O bom senso aconselhava-nos, portanto, a não usar êste estratagema, ùnicamente para permitir ao Govêrno uma mais eficaz mobilização dos seus adeptos.

Não, Sr. Presidente, fi-lo, estou a fazê-lo e tenciono continuá-lo, até à hora que a mim próprio impus, porque entendo que é a forma mais republicana de cumprir o meu dever, e uma maneira de romper o sequestro que certa imprensa estabeleceu a esta Câmara. Amanhã, os jornais, quer queiram quer não, hão-de dizer que falei tantas horas, até de madrugada, procurando, porventura, indispor-me com o País.

Porém, Sr. Presidente, ou que me habituei a estar em contacto com o País, êle que conhece os meus hábitos e a minha lealdade, há-de, certamente, dizer que se fiz semelhante esfôrço foi porque o Parlamento pretendeu realizar alguma cousa que revolta a minha consciência de indefectível republicano, o meu coração de português.

Verificam, portanto, V. Exa., Sr. Presidente, e o Puís que da minha parte não há qualquer interêsse mesquinho ao assumir esta atitude.

Vim, moço ainda, para a actividade parlamentar, sem que o tivesse solicitado, só aceitando êste lugar depois de muito instado.

Eu, que vim, por consequência, cheio de boa fé e do esperança, para esta actividade, não sou um scéptico, e continuo a ter a combatividade de que V. Exas. tiveram hoje prova.

No emtanto, não tenho nenhuma confiança, não nas instituições, mas sim na gente que aqui continuará a vir, porque, das Constituintes para cá, os Parlamentos têm sido cada vez piores.

Sou insuspeito porque não fui parlamentar nas Constituintes, e tenho-o sido nos outros Parlamentos seguintes.

Entrei na actividade política, não para conquistar situações que não desejo, ou para satisfação de quaisquer interêsses pessoais, mas porque estava convencido