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68 Diário da Câmara dos Deputados

se verificará que não tenho dito palavras que fossem imiteis ao meu País.

Digo-o será fui sã, modéstia, mas sem vaidade.

Nesta altura da sessão, em que os raios do sol criador o indiferente a todas as nossas pequenas desavenças rompem no horizonte a sua sintonia de cor, muitos dos meus colegas, entre surpresos o aborrecidos, estarão talvez imaginando que eu tenho estado aqui a realizar a tarefa inglória de querer salvar um Govêrno moribundo.

Nilo, pouco mo importa o destino imediato do Govêrno. Importa-me, sim, a inferioridade, porque a todos nós nos rebaixa os expedientes de que nos temos socoí rido nesta noite.

Falo com e tem dolorido e magoado do português que sente o esquecimento a que se está votando aquilo que é vital para os interêsses do País, aquilo que é essencialíssimo para os interêsses da Nação.

Falo revoltado o comovido, por ver que num momento em que o inimigo externo mais uma vez traina contra nós as suas periódicas .arremetidas, e í az da nossa agitação um argumento, nós outros, na nossa cegueira o na nossa inconsciência estejamos ainda a fomentar maior agitação cá dentro.

Falo magoado e comovido, porque neste momento, em que o nosso povo não pode obter outra espécie de educação senão aquela que lhe deram, nós estamos mostrando-lhe que o êxito o motivo suficiente para justificar todos os processos, mostrando-lhe que a emboscada é legítima, mostrando-lhe que a citada é um processo de utilizar quando desejamos servir-nos dela para satisfação da nossa vaidade.

Magoa-me e comove-me sobretudo verificar que esto País, que possui todas as condições para ser um grande povo, pela riqueza do seu solo, pela fertilidade dos seus campos e riqueza de energias, que tem até um grande número do pontos de apoio directivos, unicamente pela cegueira dos seus homens não consegue realizar essa obra criadora, como era mester.

E agora, nesta altura, eu tenho de focar um outro fenómeno de carácter social, que justifica esta incapacidade dos dirigentes, e que começou a manifestar-se no nosso País há perto de três séculos.

Seguindo o velho provérbio de que um bom livro é um bom amigo, eu reli ainda não há muito tempo um livro, onde se diz que um dos maiores defeitos dos povos orientar, uma das suas qualidades que mais inutiliza êsses povos e que mais dificulta o seu progresso, é a inveja.

Infelizmente para nós, Portugal tem uma larga ascendência oriental.

Poderia fazer sôbre êste assunto uma larga digressão etnológica.

O Dr. Teófilo Braga e toda essa ascendência que V. Exa., conhecendo-a melhor do que eu porque é mais culto o mais instruído, sabe para quantas horas me daria matéria para o meu discurso.

Mas eu não estou a fazer obstrucionismo.

Ao contrário do que todos supõem, eu estou a expor certos princípios o a impedir certas táticas.

Faz justamente neste momento 2 horas que estou acordado e continuamente a trabalhar, mas apesar de fatigado por esta extraordinária vigília e pelo esfôrço que durante ela tenho desenvolvido, e embora contra os meus hábitos, continuarei esta conversa até as 2 horas da tarde.

Sr. Presidente: falemos da afirmação acerca do grande mal que existe nas sociedades orientais, e que vem a ser o da inveja, que atinge uma extensão tamanha que é uma instituição social.

Há o velho provérbio português que diz que se a inveja fôsse tinha, moita gente era tinhosa.

Eu devo dizer que em matéria de inveja fiz uma auto-educação, que foi muito valiosa, muito proveitosa.

Sou realmente uma pessoa que não inveja ninguém; não me aborreço por ver que outras pessoas têm o que ou não tenho porque me habituei a considerar como um dos fundamentos da felicidade o contentarmo-nos com o que temos.

Assim vivo satisfeito dentro das condições de vida de que disponho, enchendo de alegria, com a minha mulher o os meus três filhos, as três pequeninas casas em que vivemos, apesar de correr que habito um luxuoso palácio.

Habituei-me de moço a promover em mim o desenvolvimento de certas aptidões e a combater aqueles sentimentos que eu entendo que não eram de cultivar.