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88 Diário da Câmara dos Deputados

corrupção alarga. O Parlamento não é uma praça de compra e de venda de consciências. Não pode ser nem será. A sessão tem-se alargado demasiado. Estou convencido que nenhum dos homens que têm assento no Parlamento, na oposição, deixará do se manifestar pela sua energia e vontade quando o Govêrno se puser fora da lei. Perante tal, nós temos o direito do nos rebelar, porque então somos nós o poder legal.

Porque se tem demorado a sessão? Dizem: porque se esperam vários comboios rápidos.

Depois surgem outras ideas, como a do que se pretende rasgar uma página da Constituição, fazendo do Senado, para isso, o instrumento. Assim, pretende-se demorar esta sessão até a abertura do Senado o levá-lo a votar uma moção de confiança ao Govêrno, e pôr o Sr. Presidente da República em face de votações diferentes das duas Câmaras. Depois, então, diz-se esta cousa singela, e já inventada o praticada pelo próprio Sr. António Maria da Silva - é o conflito, e como é o conflito, êle tem do resolver-se. Ora nós recordamo-nos da nossa história parlamentar, e um facto sucedeu aqui, e era uma interpretação constitucional que se pretendia dar ao Congresso da República dando-lhe funções políticas equivalentes à Câmara dos Deputados.

Lembro me da agitação manifestada, e não posso esquecer que foi o meu antigo correligionário Sr. Eduardo de Almeida quem, com a sua palavra conciliadora, fez com que não fôsse por diante essa interpretação. Mas não deixou de ter consequências graves. Pimenta do Castro não foi senão o resultado dessa idea. Mais tarde o Sr. António Maria da Silva reproduziu o incidente.

Não deu resultado, e, se porventura alguém de imaginação doente imaginasse que era possível realizar um acto dêsses, estou convencido de que há republicanos em Portugal para defender a pureza da Constituição, já tam equívoca a situação criada nesta hora, que já começam a fervilhar boatos. Se é necessário prolongar os trabalhos parlamentares até à noite é porque se vai produzir um grande facto - um facto grave - que imporá definitivamente para sempre êste Ministério da presidência do Sr. António Maria da Silva ao respeito de todos os homens da República. Felizmente, Sr. Presidente, o exército português não está ao serviço de ninguém.

Apoiados.

Não está ao serviço do nenhum político nem de nenhum Govêrno para realizar actos que são reprováveis só em pensá-los, quanto mais torná-los possíveis.

Mas o que demonstra, Sr. Presidente, o debato que nós temos ouvido, as declarações que se têm produzido, senão que êste Govêrno veio estabelecer adentro da vida republicana a maior confusão, encaminhando-nos para uma situação equivalente àquela que nós já tivemos de sofrer e que o nosso espírito certamente não evoca senão com mágoa! Não, Sr. Presidente, o que haveria a fazer era uma obra de concórdia, de esfôrços conjugados entre republicanos para levantar a fé no povo, que não acompanha o Govêrno, e auscultar a consciência da Nação para estabelecer o equilíbrio político.

Há fórmulas possíveis.

O Grupo do Acção Republicana está em oposição ao Govêrno, que lhe não merece confiança, e não lha merece por virtude de actos praticados o por palavras produzidas. Falou-se aqui em desprestígio do Parlamento. O Parlamento não se desprestigia com o facto do derrubar Governos. O desprestígio do Parlamento não se produz com discussões que o público compreende o sente que são necessárias para que os problemas se esclareçam. Mas não é estabelecendo o record de tempo no uso da palavra, por um ou mais Deputados, que o Parlamento se prestigia.

Uma voz: - Não é um caso novo.

O Orador: - Não sei se é novo, se é velho.

Pessoalmente, exprimi já ao ilustre Deputado Sr. João Camoesas a minha opinião claramente. Tenho por êle muita consideração, reconheço-lhe talento e dignidade, mas sou obrigado a dizer-lhe sinceramente que o papel que S. Exa. desempenhou não está à altura do seu talento e da sua dignidade.

Apoiados.

Torno impossível a minha estada dentro do Parlamento, porque me sinto, do facto, enxovalhado e vexado por me obri-