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Diário das Sessões ao Senado

tendo com brilho muitas vezes exercido funções de comando. Ocasiões houve, se uão estou em erro, em que S. Ex.a serviu sob as ordens deste oíicial ilustro. Lamento não tivesse o Sr. Ministro da Marinha hesitado em mandar chamar esse distintíssimo oficial, contrariado decerto o faria, para procurar infligir-lhe um castigo, limitado a simples repreensão, eui-bora tivesse primeiro vindo a público pensar-se em inactividade.

Esse castigo atingiu um dos mais altos espíritos, um dos mais dignos oficiais da . marinha portuguesa, o Sr. Policarpo de Azevedo, que nós temos o hábito de considerar almirante, e que almirante devia ser hoje, se a República, que infelizmente nos rege, tivesse a grandeza de espírito e a coragem moral de fazer justiça a quem justiça se deve.

O Sr. Almirante, se isto feriu os ouvidos de alguém, tntenda-se ter chamado almirante ao Sr. capitão de mar e guerra, Policarpo de Azevedo, e releve-me a Câmara ter agora empregado a palavra, sem o fazer intencionalmente, o Sr. Policarpo de Azevedo, no 5 de Outubro, comandava ura navio de guerra, tinha obri- • gação de defender a bandeira desse navio, os seus galões, a sua -honra de marinheiro ; cumpriu o seu dever.

Homem de uma só fé, de uo só rosto e de u.m só coração, tinha feito juramento de defender õ Governo, a Pátria, o Rei; galhardampnte procurou cumprir esse juramento e nessa ocasião foi ferido pela maruja revoltada a bordo do navio do áea comando. É ama alta figura de marinheiro, que honrou sempre a marinha portuguesa em toda a parte, homem de uma lealdade absoluta, conservada sempre através de perseguições e desgostos, coai a mesma firmeza, com a mesma fé.

Implantado o novo regime, o Sr. Policarpo de Azevedo passou à situação de licença ilimitada, em que há catorze anos se conserva, nada recebendo dos cofres públicos. Nunca ocultou o seu sentir, foi sempre realista, realista continua a ser, è, luz do sol, de modo que todos vejam, não pratica qualqaer acto a ocultas de ninguém, não custou um real ao regime, altivamente abandonou os seus proventos, por duas vezes tinha pedido a demissão e por duas vezss, é justo reconhecê-lo, os homens da Eepúblice, em homenagem a

essa grandeza, de ânimo, tiveram a hombridade de a recusar.

Se a República tivesse - sensibilidade, saberia, dignificando e apreciando homens do alto carácter do Sr. Policarpo de Azevedo, d.!gnificar-se a si própria, este seria hoje de facto almirante e nãj continuaria na situação imprecisa em q.ie está.

O Sr. Ministro da Mário na—quero fazer-lhe essa justiça — contrariado, decerto, pensou ou resolveu dar un castigo, contrariado o aplicou, e naturalmente porque lhe tremeu o mão, não diferiu ainda o pedido de demissão do Sr. capitão de mar e guerra Policarpo de Azevedo; pelo menos até hoje não me consta tenha sido publicado.

O Sr. Policarpo de Azevedo, honrando sempre durante toda a sua carreira os seus postos i devia ser almirante, e fosse qual fosse a sua fé o seu posto devia ser respeitado e considerado como um alto exemplo,

O Sr. Ministro praticou, a meu ver, um acto irregular, magoando uma pessoa desta categoria em situação especial de licença ilimitada, por ter praticado um acto civil no use duma liberdade que a Constituição garante, tem sido sempre reconhecida, de que os Srs. republicanos, no tempo na monarquia, usaram sempre, abusaram mesmo, sem estarem nessas condições especiais e de que, mesmo estando ao serviço, nunca lhes foram pedidas contas.

Pesa-me não tivesse o Sr. Ministro da Marinha—a quem pelo modo de entender uma questão delicada, aqui mesmo disse palavras de merecido elogio—não tivesse tido a coragem de se demover desse propósito, ou porque se visse forçado em obediência a opiniões do Gabinete, ou fosse por que fosse, e aplicasse um casfigo ao Sr. Policarpo de Azevedo.

Muito sinceramente lastimo que S. Ex.íl tal fizesse, molestando uma alta figura que todos nós estimamos, respeitamos e admiramos.

O Sr. Ministro da Marinha (Pereira da Silva):— Sr. Presidente: em resposta às considerações do ilustre Senador Sr. Oriol Pena, devo dizer a S. Ex.a que sempre tive muita consideração pelo Sr. Policarpo de Azevedo.