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Diário aos Sessões do Senado

Há pouco mais ou menos de um ano que eu, poucos dias depois da visita do Sr. Presidente da República a Viana do Castelo, vi naquela cidade uns escoteiros muito esquisitos comandados por eclesiásticos.

Procurei mforniar-me e soube que se tratava de uma instituição patrocinada 'pelo arcebispo de Braga, reaccionário conhecido de todos.

Então chamei a atenção do Governo para o caso, prometendo-me o então Ministro do Interior providenciar e tanto providenciou que aquela instituição que ao tempo não passava de uma criança nos surge ao fim de um ano um adulto coru-pletameníe desenvolvido por culpa do actual Sr. Ministro do Interior.que o permitiu com o seu despacho.

Essa instituição é contrária à Constituição que no n.° 7.° do artigo 3.°, diz:

Leu.

O fim e a criação do «escotismo católico» vem de longe.

Foi mansamente organizando-se. alargando-se por todo o país, à espera de encontrar um Ministro descuidado — é esta a frase mais benévola que encontro para explicar o acto do seu Ministro.

O Sr. Ministro do Interior (Sá Cardoso) : —A frase não é para mini...

O Orador:—Eu sei o que V. Ex.a me vai responder e quais os nomes que vai citar.

Mas isso não lhe. tira a responsabilidade máxima, porque assinou o decreto em causa.

Se V. Ex.a tivesse lido os estatutos que tenho presente, estou convencido — faço--Ihe essa justiça— de que não assinava semelhante documento.

Um documento que, por exemplo, diz:

Leu.

Veja V. Ex.a como a igreja católica classifica os sócios das instituições que ela protege: lobos, lobitos e velhos lobos!

Está de harmonia com o espírito reaccionário que presidiu à criação desta instituição : lobos que vêm ao povoado buscar as ovelhas desde os sete anos.

O Sr. Bulhão Pato: —E veja V. Ex.a que o caso é com os dois sexos.

O Orador:—Não tinha reparado nessa promiscuidade.

Antigamente fazia-se isto a medo; agora pretende-se buscar uma base legal.

E então eu pregunto:

E que a igreja quando quere afrontar o Poder Civil, fá-lo por esta maneira, fá-lo sem escrúpulos, ofendendo até a dignidade das instituições onde procura meter-se.

-Síem ao menos tem o pudor de cobrir de alguma forma os seus intentos. Apresenta-se brutalmente,, como dominadora, pretendendo ser aquilo que foi antes da República.

Depois, há cousas de um ridículo extraordinário.

í)izein os estatutos:

Leu.

j(íO que é que quere dizer isto: boa disposição de espírito?!

Sr. Presidente: nunca fiz uma afirmação sem a provar.

Disse há pouco que a igreja foi sempre assim: sem escrúpulos, atrevida, querendo dominar em tudo e então faz o seguinte: num regime republicano de separação, embrulha num mesmo volume o Chefe de Estado com o núncio e bispos.

Uma vergonha, emfim!

Sou tolerante; não ataco a igreja católica; ataco mas é os seus ministros que a não sabem respeitar e se aproveitam dela para fins inconfessáveis e criminosos.

E assim é que diz:

Leu.

Quere dizer, agarra no Chefe do Estado o embrulha-o neste farrapo, onde muito bem podem estar as altas personalidades da Igreja, já que assim o querem, mas onde não deixarei ficar quem tanto acima está destas misérias.

(7 Então se houvesse um bocado-de pudor da parte da Igreja, fazia-se isto?

V. Ex.a não leu os estatutos a quo deu a sua aprovação porque se tivesse lido, bastava só esta disposição, para eu ter a certeza de que V. Ex.% velho republicano, cheio de serviços à Pátria, soldado valente, que foi para a guerra e se bateu, não faria o que fez, assinando com a facilidade com que o fez o decreto em causa, praticando portanto uma má acção.