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Diário das Sessões do Senado

mica, e do quartzo ainda o inais grosso, aquele que à torrente de água não tem força suficiente para o arrastar para longe.

O que resta então? Apenas a rocha, o quartzo completamente inaproveitável e improdutivo, porque não tem na sua constituição mineralógica nada que possa ser útil à cultura.

Sr.. Presidente : esta região de que se trata é essencialmente montanhosa; está naquele contraforte das duas serras por cuja depressão corre o Vouga. Serras ou encostas alcantiladas, por consequência das de mais difícil trabalho.

Ligue V. Ex.a, Sr. Presidente, estas duas circunstâncias: pouca produtividade e dificuldade no trabalho; e diga-me V. Ex.a e a Câmara se poderá haver esperanças de obter quaisquer resultados económicos conquistando badios desta natureza à exploração.

Eu calculo, Sr. Presidente, que é estarmos a enganar os próprios povos.que comprem amanhã em hasta pública baldios dos quais se possa ter a presunção de que têm qualquer valor cultural. Essas pessoas poderão comprar na esperança de amanhã terem uma propriedade de valor; podem ir comprometer nesses terrenos grandes capitais e todavia não •obterão uma cultura rasoável mais do que um, dois, ou, quando muito, três ans. Depois, tudo volta à extremidade completa com a circunstância agravante de que então já terá sido destruída a vegetação que podia ser aproveitada por animais modestos, mas que nos dão produtos muito necessários para a nossa vida, que nos dão a carne, a lã e o leite.

Sr. Presidente: nós estamos continuamente a pedir e a clamar contra o facto dos desbastes contínuos das nossas serras. A fraca camada de terra que cobre estas serras está agarrada exclusivamente pelo entrançado das raízes dessas plantas. Arranquem-se amanhã essas plantas e nós veremos que todos esses terrenos virão na corrente das águas até os vales e os rios e daí para muito longe, indo aproveitar outros agricultores, mas não os da região.

Por consequência, desde que eu assim penso, não posso de modo nenhum dar o meu voto a este projecto.

As câmaras municipais dessa região só são dignas de louvor pela iniciativa, mas estou convencido de que estão absolutamente iludidas.

Evidentemente que procedem com a maior lealdade, supondo praticar um acto que só podia ser útil para os seus concelhos. A meu ver labutam num profundo erro.

Sr. Presidente: hontem o "Sr. Ministro da Agricultura, entre algumas coisas interessantes que aqui disse, afirmou que o facto dos povos da região não se terem manifestado ainda contra este projecto deveria porventura influir no nosso espírito para que lhe déssemos o nosso voto. Ora, Sr. Presidente, eu estou absolutamente convencido de que esses povos, pelo menos aquelas pessoas que têm poucas cabeças de gado, ainda a esta hora ignoram por completo que ria Camará dos Deputados se tivesse aprovado este projecto, assim como ignoram que o Senado se esteja ocupando dele. Amanhã, quando eles virem que se começa a arrotear aqueles baldios onde mandavam apascentar os seus gados, nós veremos então como se manifestam, havendo necessidade de recorrer à Guarda Republicana ou à autoridade civil para reprimir as violências daqueles que julgando-se senhores de alguma coisa até ali se estão vendo completamente esbulhados. E então que nós vemos os protestos que muitas veses se traduzem por incêndios e outras formas violentas. ;

Não quero, por consequência, ligar o meu voto a um assunto que julgo que pode ter consequências tam funestas como estas e que tem consequências desvantajosas para a própria região que se pretende conquistar para a cultura.

Tenho dito.

Vozes: — Apoiado! O orador não reviu.

O Sr. Álvares Cabral — Sr. Presidente : eu pedi a palavra para dizer a V. Ex.a e ao Senado a minha opinião sobre esta proposta de lei.

De uma maneira geral, é ela para mim muito simpática, por isso que vai fazer arrotear e produzir muitos terrenos que hoje quási nada produzem.