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Sessão de 19 e 20 de Agosto de 1924

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se manter com decoro. Sente-se e reconhece-se muito mal pago, é a classe por assim dizer a única infeliz que se pode apontar dentro deste estado miserável em que se encontra a vida nacional portuguesa.

Se confrontarmos o vencimento do funcionalismo público com os vencimentos dos empregados da alta finança, dos Bancos, por exemplo, vemos que o funcionalismo público e os oficiais do exército de terra e mar recebem muito menos que um simples servente, ou, polo menos, de que qualquer amanuense do Banco do Portugal.

Sr. Presidente: se consultarmos os vencimentos qnc têm os empregados de carteira dessas muitas companhias de Angola e Moçambique com os que recebem os funcionários públicos de Portugal, nós verificamos que os funcionários principalmente dessas empresas de Angola e Moçambique que tem escritórios em Lisboa e Porto, recebem mais do que os funcionários públicos, mesmo dos de maior categoria.

Se confrontarmos ainda os vencimentos que recebem os funcionários da Moagem com os do funcionalismo público, verificamos também que Aqueles recebem muito mais do que estes.

Mas não se fez isto,. E não se fez, porque a maior parte dos políticos, a maior parte das pessoas que pontificam na política, faz parte dos Bancos e das Companhias. E se os políticos não fizessem parte dos corpos dirigentes dos Bancos, dos banquinhos e banquetas, das grandes companhias previligiadas, como, por exemplo, da Companhia Nacional do Navegação, e de todas essas companhias de nomes pomposos que constantemente vemos publicadas no Diário do Governo, se eles não fizessem parte delas, o funcionário público estaria a esta hora bem remunerado e a carestia da vida não teria aumentado e esses homens que estão cheios de ouro, que não sentem as misérias, que vivem em luxuosos palácios, esses homens teriam reconhecido que o funcionário público não pode viver com o produto em escudos que lhe dá o coeficiente 12 e que ele tem necessidade para o indispensável à sua vida e à manutenção da sua família que lhe seja dado o coeficiente 15.

{República, não é isto! [Democracia, Saúde o Fraternidade, também não é isto!

Saúde e Fraternidade é só para aqueles que estão hoje ricos, mas que em 1910 não tinham nada, eram simples funcionários de categoria inferior, e.hoje estão alapardados como altos funcionários, como representantes de companhias e explorando o Estado em empresas e companhias previligiadas.

São esses que pontificam, os que resolveram que o coeficiente a dar aos funcionários públicos fosse de 12 e.não de 15, como por eles era reclamado, com inteira justiça.

O Sr. Ministro das Finanças devia determinar a extinção de muitas comissões, de muitos gastos supérfluos e.despesas inúteis que existem no seu Ministério, como é, por exemplo, a comissão de que fazem parte o Sr. Abel Hipólito e o Sr. Oliveira o Silva, que recebo m de gratificação mensal quási 500$. Este último recebe também o seu vencimento de chefe de repartição, com serões e tudo, e é possível que tenha ainda uma gratificação pelos serviços que presta na Casa da Moeda e Valores Selados. .

Parece que este funcionário é o único competente que existe"no Ministério das Finanças para exercer tantos cargos quantos são os que aparecem ao Sr. Alberto Xavier que também é um dos donos disto e que, portanto, não sente a miséria dos funcionários públicos e dos seus subordinados, pois se assim acontecesse, decerto aconselharia o Sr. Ministro das Finanças, na sua qualidade .de conselheiro, a aumentar o coeficiente para 15.

E, Sr. Presidente, não aconselho isso ao Sr. Ministro das Finanças porque esse funcionário como tantos outros não sente a fome bater-lhe à porta, tem pagos todos os vencimentos em dia, vive principesca-mente, emquanto o funcionário público o que hoje ganha mal lhe chega para pagar a casa, para si, para a mulher e para os filhos.

Muitos apoiados.