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Diário dai Sessões do Senado

•Oponho-me, já assim o dei a entender, porque julgo não haver vantagem alguma •em o deixar seguir.

Cingindo-mo mais propriamente à doutrina consignada no artigo 1.°, entendo não só que que a obrigatoriedade é uma violência que nada explica nem justifica, mas também que não é assim, promulgando ou propondo medidas destinadas absolutamente a serem desrespeitadas, porque ninguém irá atrás delas, que se fomenta ou se cria na grande massa do povo o •culto da árvore.

Já o meu prezado colega Sr. Querubim Guimarães, com muita graça, se referiu a, isso, ia o Sr. Machado de Serpa, com o •seu bom senso e espírito de sempre, se •ocupou do assunto, combatendo ambos •eles, e justamente, esta disposição do artigo, sob o ponto de vista legal ou jurídico.

'Mas não me espanta ver aqui essa obrigação consignada, por ser característico •de tudo o que se propõe no regime republicano quererem forçar, violentando, a vontade de cada um! •

j Foi sempre assim; assim, continuará a ser!

Faço estas considerações apenas como protesto e hei-de mandar para a Mesa uma proposta de emenda restringindo a doutrina deste artigo. Algumas árvores 'das que estão indicadas podem ser conservadas na efectivação do que se preceitua; mas há uoa ponto de vista em que não compreendo a insistência, dados os exemplos que estamos a ver todos os dias.

O-nosso prezado colega Sr. Gaspar de Lemos não gostou de ouvir-me dizer-que o nosso povo, o português em geral, não amava a árvore, e, contudo, basta ver o que, nas artérias principais da capital, está praticando a nossa edilidade. • É olhar para a Avenida da Liberdade. Devo dizer, por*incidente, que não concordo com a arborização que se fez na i-Avenida da Liberdade, não obstante ter-se -procurado remediar o erro cometido com á referida arborização, mandando vir do estrangeiro técnicos competentes para resolverem o caso.

'Mas a actual edilidade deu cabo de tudo, não só das árvores como do bem feito trabalho de serralharia que havia por -baixo e se devia ter. poupado por ser bem aproveitável. •

Lá estão os restos mutilados, dando ao local o ar abandonado de um armazém de ferro velho.

•Cousa semelhante sucede com a Praça do Kio de Janeiro e com o Jardim de S. Pedro de Alcântara, onde se têm praticado verdadeiras barbaridades.

No jardim superior têm-se cortado, sem necessidade nem vantagem alguma, árvores sãs, em pleno desenvolvimento e sob certos pontos de vista interessantes. A par disso, no jardim inferior conservam--se umas palmeiras, as filíferas, velhas, de aspecto desagradável, que nada têm que as recomende, porque atingiram um certo desenvolvimento que as torna anti--estéticas, casando-se bem mal com o aspecto cias nossas construções e do nosso céu que lhes serve de fundo.

Isto é para mostrar a V. Ex.as o risco desdizer precipitadamente, impulsivamente, a qualquer entidade administrativa: «Faça isto porque o Governo tem uma lei que o manda fazer»; temos de contar com a birra nacional.

Há quem goste de fazer torto só por se lhe dizer que faça direito e não compreenda a muito boa fé de quem lhe diga: «O caminho não é este», e lhe mostre outrc malhor! j Só pelo prazer de mostrarem a sua independência, seguem o mau caminho iniciado! Daí a grande parte das tolices indígenas.

Nè.o tenham ilusões ; j não faz este projecto criar o amor à árvore ! Esse amor só se pode ter quando se tem a inteligência para compreender os benefícios que elas dão, sempre superiores aos míseros prejuízos quo possam causar aos proprietários confinantes em pleno campo ou L curiosidade doentia das janeleiras nas cidades.

-A árvore é sempre inal vista pelo proprietário confinante, simplesmente por ser de outrem.

O proprietário —digo-o com toda a franqueza T—em geral não pordoa o mais insignificante prejuízo causado na sua propriedade pela árvore do vizinho e só o tolera se a árvore lhe pertence.